Arquivo do mês: junho 2009

BALANÇO SPFW VERÃO 2010 – PARTE 1

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Fui convidado pelas fofas das meninas do Oficina de Estilo para comentar os desfiles do último dia do SPFW no blogue delas. Como era o último dia, fiz uma certa análise do que estava pensando através dos desfiles.
De uma maneira muito tranquila, sem os histrionismos do verde-amarelo ou do regionalismo de algum lifestyle [o carioca, o pior, pois se acentou na cabeça de muitos fashionistas como uma verdade], a moda feita no Brasil passou a refletir de maneira mais clara que é feita no Brasil de forma afirmativa (talvez isso é o que de mais brasileiro a moda feita no nosso país possa alcançar, aliás, todas as expressões sejam elas artísticas ou não).
Tudo bem, a moda sempre refletiu o nosso país, mas até então, sempre na chave negativa e indireta, só víamos a questão da cópia, da vergonha, do colonialismo. Senti nessa temporada que eles encararam de frente a tal da brasilidade de forma mais orgânica, sem bandeiras nacionalistas e sem obviedades, com resultados que estavam na criação de algumas roupas e looks ou mesmo imagens.
Para mim foi uma temporada importantíssima, pois nada de novo aconteceu no front, como a maioria das temporadas, mas de maneira silenciosa, o Brasil começou a se refletir no pensar das roupas e no pensamento de moda dos nossos criadores e pra mim a ráfia (fibras de uma palmeira usada na confecção de sacas de frutas e produtos) é um dos símbolos dessa acontecimento maravilhoso, que assim como tudo no nosso país [a história, a política, a vida social] aconteceu sem revoluções e grandes queimas de fogos de artifício.

COLUNA DA REVISTA DA FOLHA DE SÃO PAULO 28/06/2009

A parada foi sinistra, diriam os cariocas, se a 13ª Parada do Orgulho LGBT tivesse sido na cidade maravilhosa. 15 dias depois daquela que é considerada a maior manifestação homossexual do mundo, só posso dizer que tenho mais vergonha do que orgulho.
Pessoas que foram assistir o evento quase ficaram esmagadas perto do Masp. O cozinheiro Marcelo Campos Barros, 35 anos, morreu depois de ser espancado em plena Frei Caneca, que muitos querem batizá-la como rua gay. Mais tarde, uma bomba caseira explodiu em plena Vieira de Carvalho com Vitória, um lugar muito mais gay que a Frei Caneca, deixando dezenas de feridos. A polícia até agora não prendeu ninguém.
Mas pior que falhas no policiamento e na organização, é o cativeiro que os viados estão construíndo para si mesmo. Primeiro ao retirar os trios elétricos das boates gays para dar um viés mais militante, a parada se tornou menos feliz. Não percebeu que na vida gay, as boates tem sim grande papel político. Mas mais obtuso que isso foram os camarotes na Paulista que as supostas finas pagaram para se sentirem protegidas da turba. Isolaram-se da população de uma cidade com pouco lazer e vê na parada uma oportunidade de ser menos excluído da diversão – e que sem eles nós não teríamos a maior catwalk gay do mundo. Ouvi muitas bichas falarem que agora a parada perdeu o sentido, que só tem gente feia, pobre, “maloqueiros”. E trataram essas pessoas com a mesma intolerância que juram lutar contra. Tá boa?!

Errata: O cozinheiro Marcelo Campos Barros foi morto na rua Araújo.

PS: A militância está furiosa, acha que eu desmoralizei a Parada e que fui nefasto ao errar o nome da rua do assassinato, da Araújo para a Frei Caneca, mas isso de forma alguma diminui a minha verdadeira crítica que é dirigida aos policiais que não prenderam ninguém e que, suspeito, tem toda cara de ser crime de ódio. E só aconteceu pela visibilidade da Parada. Me parece uma resposta de algum grupo talvez, e para amedrontar ainda mais os que sairam na rua, assim como a bomba caseira que explodiu no Largo do Arouche, tudo na mesma noite e locais de trânsito de quem estava no evento.

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Marcelo Campos Barros foto de Luci Felipe

PENSAMENTO FRACO DE DOMINGO

Hoje não tem pensamento fraco, porque meu pensamento está em Michael

AINDA MICHAEL… SEMPRE

Como disse no post anterior o mundo “nos próximos dias tem Michael Jackson como sua principal trilha musical”. E ele tocou na Torre, na Lôca, no Ecletico’s, na festa do puteiro Nova Babilônia, em todos os canais de tvs, em todas as festinhas em casa que eu fui nesse fim de semana. E sempre se falou dele, em algum momento. Fora os inúmeros flash mob do moonwalk que aconteceram em várias cidades do mundo. Em São Paulo falaram que aconteceria um na sexta, dia 26 e outro no domingo, 28, mas não vi fotos e nem sei se aconteceram mesmo [agora sei que aconteceram mesmo, no domingo]. Mas foi com orgulho que sexta, vi nas bancas o jornal Lance, que é especializado em esportes, com a seguinte manchete: Morre Michael Jackson, o Pelé da música.
O mundo está de luto e todos tentam entender – como no velório – o porquê do inevitável, a morte.
Mario Mendes diz belamente que Michael morreu por excesso, já Nina Lemos acha que ele morreu porque tinha medo da vida. Todos precisamos nos consolar de alguma forma, de entender o fim de uma poesia enigmática.
Inácio Araújo diz que “Michael dançando era um corpo que desorganizava o mundo ao seu redor, reduzindo nossos corpos, os corpos de todos os outros, a coisas mal-ajambradas”. E Xico Sá declara: “O maior passo da humanidade se deu quando o primeiro negro pisou na lua: salve Michael Jackson”.
O estilo de Michael está no excelente post de Simone Esmanhotto . Ela diz que ele “atravessou as anos 90 e 00, enfrentando o curto casamento com Lisa Presley e as acusações de abuso sexual, com o figurino do auge da carreira” [os anos 80]. Mas o mais interessante é ele morrer no auge das releituras dos anos 80.
Por fim: encontro o roteirista Hilton Lacerda tarde da noite e ele me diz a frase mais bonita de todas: “Michael Jackson pode ter morrido, mas ele continua vivo nos inúmeros Maicon que nasceram nas periferias do Brasil”.
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Jacko para a L’Uomo, em 2007, fotografado por Bruce Weber
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PS: Nesse mundo que todo mundo quer ser loira, que o ideal de magnitude perpassa o arianismo, um negro eclipsou a morte da mãe de Gisele, Farrah Fawcett, um ideal de beleza e cabelo, o cabelo que nossa top maior reatualizou, quase passou desapercebida. Paradoxos maravilhosos!

MICHAEL FASHION

Foi o Oliveros que por e-mail me avisou que Michael Jackson morreu. Senti uma infelicidade imensa. Pois fui feliz durante a sua existência. Ele e muito do seu estilo me acompanharam e me acompanham até hoje.
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Com 10 anos, com uma namoradinha de escola e vizinha, lembro de ouvir de mãos dadas com ela e de olhos fechados – “para ficar imaginando o infinito” – em uma vitrolinha Sonata o compacto de “Music & Me”.
A capa era Jackson ainda uma criança com cabelo black power e um violão. Lembro que desde essa época acho o cabelo black power o mais estiloso que existe – e dizem que é o cão pra mantê-lo. Lembro de insistentemente anos mais tarde pedir para um namorado deixar o cabelo ficar black power. Se tivesse cabelo suficientemente bom e vasto pra isso com certeza só usaria o black power.
“Music & Me” era a música lenta dos bailinhos, da época que se dançava juntinho, mas o seu pop que sempre flertou com a melhor da música para se dançar, leia-se: a black music, foi o melhor termômetro das pistas de dança. São inúmeras suas criações que esquentam e fazem uma boa pista na buatchy.

Ele foi responsável pela difusão do break ou da street dance dos guetos negros para o mundo. Moonwalk é um passo tão clássico como o pas de bourrée ou o grand jeté é para o ballet. Lembro de treinar milhares de vezes na rua com meus amigos o moonwalk e quando a gente pegou a manha – mas nunca deslizamos como Michael, quero deixar isso claro – ficamos super nos exibindo nas matinês e era uma sensação.

Saber o moonwalk era estar em um estágio mais evoluído da raça humana, era assim que parecia para todos os garotos da minha geração.

Ele não tinha medo dos brilhos como em “Rock with You”, que depois apareceriam na suas meias e na sua luva com cristais Swarovski. Sem falar do brilho de seus casacos militares, inspirados nos Beatles, mas diferentemente do quarteto britâncio que tinham aquela roupa como figurino, Michael fez da jaqueta sua roupa do dia-a-dia (se é que podemos falar isso no caso de Michael).
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Não à toa, a Balmain lançou com grande sucesso uma versão atualizada da jaqueta de Michael.

Depois teve “Don’t Stop ‘Til You Get Enough” e as meias brancas no mocassim preto era uma marca forte de Michael. Aliás se não tinha o brilho, era sempre uma cordenação de cores de não cores: Michael usou e abusou do preto e branco.
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Sempre achei luxuoso esse estilo (mocassim preto + meia branca) mesmo com a minha mãe dizendo que a meia deve ser da cor do calçado ou da calça.
Não importa, ele tinha um estilo terrificante que fez todos ficarem paralizados durante uma noite de domingo, no Fantástico, para assistir “Thriller”. Aquilo foi um acontecimento em rede nacional. Um curta de terror com uma coreografia que foi exaustivamente repetida e ainda a é até hoje. Lembram da “surpresa” do final do SPFW com os bailarinos dançando? Aquilo foi pura reciclagem de “Thriller”.

O mais impressionante que ele nessa época é tão lindo, mas agia igual às anoréxicas que não se enxergam como realmente são. É também nesse clipe que tem a sintomática transformação dele em lobisomem e em morto-vivo sinalizando em metáfora o que aconteceria com ele tempos depois.
Suas plásticas são mais artísticas, radicais e interessantes que as de Orlan e causam tamanho choque em uma sociedade que um branco pode imitar um negro, mas o vice-versa é impensável.
Mas mais impensável que isso foi o conglomerado de pessoas que ele conseguiu unir numa tarde na MTV. Trabalhava lá no começo dos 90, um ambiente dos roqueiros, alternativos e modernos de toda espécie, enfim uma área pouco provável pra fãs de Michael. Mas quando chegou o clipe “Black and White”, todos, sem exceção, se aglomeraram num pequena salinha pra ver o clipe. Sério, teve umas 6 sessões pra que todos pudessem ver/ouvir o Slash – me engana que eu gosto.

Sobre a questão de que cada vez mais ele foi ficando mais branco, como muitos amigos negros continuaram a amá-lo e nunca viram sua “branquificação” como sinal de “traição do movimento”, fechei que aquilo era uma questão de sua individualidade (por mais problemática que fosse sua transformação, era um problema dele). Sua grandeza nunca diminuiu: lembro que quando ele foi preso, acusado de pedofilia, em plena época dos xiitismos eletrônicos, o Dj Marky parou seu set e colocou Beat It. Gestos assim dão dimensão do alcance do artista Michael Jackson.
Até hoje me pergunto se ninguém percebeu o quanto tinha de político em plena era Bush e de todo anti-islamismo reinante, quando ele deixou Neverland (meu sonho era conhecer esse lugar!) e se mudou para o Bahrain, nos Emirados Árabes. E apareceu até de burka.
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Na moda atual e na música, com toda a revisão dos anos 80 que teimam em não acabar, seu estilo era a mais perfeita tradução dessa década. E esperava com ansiedade o impacto que seus shows em Londres que começariam no próximo dia 13 de julho, causaria no mundo e com certeza na moda. Mas ele se foi como me avisou Oliveros por e-mail.
Michael simbolizava o trânsito entre as coisas do mundo, ele deslizava pelos ritmos, gêneros, gerações exatamente como sua dança. Sua música tinha r&B, soul, funk, rap, rock. Ele mesmo era meio homem, meio mulher, meio branco, meio negro. Ora era todo brilho, ora se escondia na neutralidade do preto e branco. Ora causava amor, ora causava repulsa pelos supostos casos de pedofilia que foi acusado ou pela quantidade de plástica. Não saiu da infância, mas deixou os adultos mais alegres, o mundo mais feliz.


Pra mim esse vídeo é o resumo de sua grandeza. Ele entra, diz seus versos e nós inclui nesse mundo, um mundo que nos próximos dias tem Michael Jackson como sua principal trilha musical.

SUZY MENKES ENTRE NÓS E OS DOIS MAIS BELOS POSTS DA TEMPORADA

As jornalistas estavam tão na “loucurinhas” que nem notaram a famosa presença de Suzy Menkes na sala de imprensa e seu inseparável laptop.

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Ahahahahah! Essa é a Brisa, querida, bem mais jovem, mais bela e simpática que Menkes, mas já cultivando um topetinho à la editora do International Herald Tribune. Ela tem um blog só de tatoos e eu até mostrei a minha.

Mas o que me tatuou de verdade nessa temporada foram dois posts que explicitaram posições que eu acredito e tento cultivar no meio de moda.

Fernanda Resende escreveu sobre as verdadeiras prioridades
, que todo o circo armado da moda pode nos fazer esquecer.
E Jana Rosa fez as imagens mais lindas de uma verdadeira afetividade fashion, que muitos dizem não acreditar, mas está lá.
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Nina e eu

CARAS E BOCAS

Não, eu não vou falar sobre a novela das 7 maravilhosa que o grande artista plástico é um macaco… Que delícia!!! Como dizia um antigo bordão de um programa humorístico: “O macaco tá certo!
E sim pela recuperação sutil de uma modelo nessa temporada e de seu jeito de interpretar uma roupa, ou carregar como preferirem: Marina Dias. Já escrevi sobre toda minha admiração do modo de como ela ressaltava as roupas de Lino Villaventura. Dessa vez, novamente Lino errou ao não convocá-la, seria com certeza a mais interessante das ninfas. Mas marcas como Neon e Samuel Cirnansck acertaram ao perceber que a dramaticidade cinematográfica de Marina carrega o espírito de nosso tempo agora. A neutralidade das modelos e sua invisibilidade parece a cada dia fazer menos sentido em um mundo que pede por individualidades. Tudo bem que, nós, fashionistas já treinados, sabemos muito bem saber perceber pelo andar de uma top uma certa carga dramática, mas a era minimalistas das modelos parece que começa a chegar ao seu esgotamento, senão isso, parece então abrir para novas formas de interpretar a roupa.

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Marina Dias para Samuel Cirnansck

A Neon ao firmar a cada temporada, antes de maneira quase isolada e ultimamente cada vez com mais parceiros, [até Lino – que nunca seguiu tendências nenhuma de parte alguma e tinha em seus primeiros desfiles caras e bocas, chegou a uma fase mais contida e nessa temporada voltou a ser um pouco mais dramático] que o catwalk tem uma história que deve ser revisitada, faz um trabalho de historicizar o comportamento das modelos. E a partir do momento que as modelos ganham uma história através da sua personlaidade mais do seu catwalk ou da combinação de ambos, elas sistematicamente deixam de ser vistas apenas como cabides para se tornarem agentes históricos, personagens e não objetos. E Marina Dias foi nessa temproada a melhor data histórica.
Veja o que Dudu falou sobre desfile da Neon, as caras e bocas da coleção e a participação fundamental de Marina Dias no desfile.

Abaixo o final drama da Neon.

GLORIA KALIL E EU

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Só faltou mesmo a Regina Guerreiro, pra completar a tríade fashion brasileira, mas ela não veio no último dia, quer dizer, deve ter visto o primeiro desfile e se mandado, porque a fofa, queridinha, não é obrigada! Mas consegui conversar com Gloria Kalil, [uma dica, nunca chame ela de Glorinha, tá?] antes do último desfile da temporada. Ela falou de educação, e que nem sempre consegue ser educada já que civilizar-se é um exercício contra a nossa natureza animal. Me contaram que ela era abordada até no banheiro pra tirar foto e dar autógrafo. E falou das tendências, ou da falta delas. Clique nesse link para ver a entrevista.

AS QUESTÕES DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO NA MODA E NA SPFW

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Bom, todo mundo fala que a moda é excludente e todo exercício de uma semana de moda é muitas vezes realçar isso. Exclui-se os negros, os étnicos, os gordos da passarela, exclui-se os veículos menos importantes dos desfiles, exclui-se os não convidados de entrar na Bienal, tudo isso tem uma explicação plausível (apenas no caso dos negros e étnicos que o discurso não foi tão convincente, tanto que tivemos cotas esse ano e intervenção do Ministério Público de São Paulo na questão) e pode-se, concordar ou não, mas tudo acaba se tornando uma exclusão “natural”, pois o próprio formato tanto de uma semana de moda como da estética vigente é excludente.
Mesmo assim existe um esforço tanto do evento e até das marcas para que essa exclusão não seja tão brutal assim [até porque ser excludente está na contramão do pensamento contemporâneo desde o final dos anos 90, tanto para o bem como uma nova arquitetura que pensa em rampas para deficientes e nos detalhes dos botões de um elevador para que um anão possa alcançar, como para o mal com toda a hipocrisia do politicamente correto]. Uma prova desse esforço de inclusão foram dois desfiles que aconteceram no domingo, dia 21, em áreas externas ao cubo branco de mistificação que a Bienal tão bem serve tanto para a moda como para as artes plásticas. E tão rico e incluído dentro dessa discussão, aconteceu também um outro desfile dentro da Bienal no mesmo dia, mas com o tema já no terreno do pensamento, aliás, outro elemento [o pensar moda] que muitos fashionistas (tolinhos) adoram excluir de suas análises por acharem pouco fashion.
Antes de tudo é bom ressaltar que era domingo, o dia do descanso operário, o dia de domingo no parque, o dia de procurar algum lazer para milhões de paulistanos e pessoas que moram e constroem essa cidade. E talvez esses dois desfiles, o da Cavalera e da Neon foram o seu lazer da mesma forma que para as duas marcas, o público que não estava habitualmente acostumado a assistir desfile foi a consagração e a coroação das idéias que asfaltaram as duas coleções. A presença desse público legitimou as propostas das marcas em certo sentido.
A Cavalera, vocês que devem acompanhar moda já escutaram milhões de vezes, fez seu desfile no Minhocão. Mas diferente de outras locações externas que eles já escolheram (Interlagos, rio Tietê), ali estava não só o espaço, mas a vida em torno do espaço, nada mais lógico já que a cidade de São Paulo era o tema e a coleção e uma cidade se faz com as pessoas nela.
O mais bacana, além da coleção, foi ver as pessoas na janela com a família. Nina Lemos assistiu com uma família do alto de um dos prédios que ficam rentes ao Minhocão. O mais impactante foi ver que aquelas pessoas que asssitiram pela primeira vez um desfile na vida, tinham opiniões muito semelhantes aos de fashionistas que estão há anos no metier. Veja a matéria que fiz pro Vírgula e a opinião das pessoas que ficaram atrás das grades, mas puderam ver o desfile perfeitamente.
Um parênteses entre os inúmeros que abro: Uma senhora na matéria respondeu que as roupas não eram para ela, mas digamos que ela abre chave para outra discussão sobre a exclusão: como as marcas excluíram também a velhice de sua lógica. E também o homem adulto, sobre isso Alcino escreveu no post “Observações sobre o Fashion Rio e a Moda Masculina” em seu blog e depois eu farei uma reflexão mais longa.
O mesmo aconteceu com a Neon, que fez o mesmo na marquise do Ibirapuera e todo mundo que estava no seu domingo no parque pode assistir. A praia e o parque!
Tenho que lembrar que isso não é novo no SPFW. Karlla Girotto fez uma coleção belíssima apresentada no parque também, mas temos aqui pela primeira vez duas marcas muito sólidas, que não são inseridos num contexto underground como Karlla, saindo da idéia de luxo exclusivo e seleto e abrindo o jogo, pois os tempos são outros. Sobre a Cavalera, durante um tempo, o reinado do luxo, ela deve que adaptar seu streetwear e dizer que era “luxo para todos”, agora ela trabalha em sua chave mesmo!
Por fim, Ronaldo Fraga também fez uma coleção da inclusão, nesse mesmo domingão, suas roupas eram a ponte entre o sonho (a Disney) e os excluídos (os latino-americanos e estrangeiros em geral que tentam participar do sonho americano). Ele criou a inclusão do campo do pensamento (acho que merece um post só sobre ele). Enfim, foi um domingão, tinha muito sol!
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sem essa aranha de me excluir!

O DRAPEADO OU ESSE NÃO É UM POST SOBRE TENDÊNCIA

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Muito tem se comentado sobre a aparição dos drapeados nas coleções de primavera-verão 2010. Ao sair do desfile de Gloria Coelho, Gustavo Lins, o único brasileiro que desfila na semana de Alta Costura de Paris, disse duas frases que me intrigaram. Alcino Leite brincava em tom de zombaria que para ele era difícil escrever drapê, drapeado e Gustavo Lins respondeu que esse era apenas só o começo e que iríamos ver muitos drapeados nas proximas coleções. Intrigado e sabendo que Gustavo não falava isso apenas como frase de efeito – ele é inserido profundamente no meio de moda -, perguntei o porquê. Ele disse que a moda estava encerrando um ciclo barroco e entrando em um clássico.
Para quem não sabe, o Barroco é o jogo de contradições, a força que surge do confronto de forças opostas, isso é, o caos. É nessa chave que encontramos estilistas e marcas importantes como a Prada – escrevi sobre isso faz algum tempo -, Marc Jacobs, Alexandre Herchcovitch, Balenciaga. A confusão e a simultaneadade de referências – numa mesma coleção podemos ter anos 20, 40, étnico, por exemplo – é um exemplo claro de uma atitude barroca, enfim, o arquétipo do caos.
Já o clássico ou classicismo ou iluminismo representa a ordem. E se vocês repararem em toda a história do mundo sempre vem um período de caos e outro de ordem, eles se realimentam. No Ocidente, a ordem vem com os símbolos da Grécia. Não à toa que Renascimento, Arcadismo, Parnasianismo olharam para os valores gregos e greco-romanos para estabelecerem a ordem no mundo.
Estamos agora num momento de passagem (como foi o Rococó) e nada como o drapeado – um franzido que forma ondulações enrugando o tecido ou em outras palavras uma desordem que forma uma ordem – ser o símbolo do que estou falando.
Também estamos assistindo sinais de revitalização de nomes que apostaram muito no drapê. Hoje, evidencia-se o drapeado através da recuperação da importância de Vionnet – nome da grandeza de Chanel – com exposição no Les Arts Décoratifs, em Paris. E também de Alix Grès, mais conhecida como Madame Grès, a mestre do drapear.
Alaxandre desfilará agora a pouco uma coleção com clássicos da moda masculina e Costanza atualmente só escuta clássico tanto da música erudita como da pop. Sim, são meus drapeados de idéias, são as contorções de meu pensamento, mas algo deve estar sendo sinalizado e não é uma tendência, é exatamente um novo ciclo.