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COLUNA DA REVISTA DA FOLHA DE SÃO PAULO – 03/05/2009

bully
No último sábado, em pleno Bar do Netão, na agitada região da Baixa Augusta, em São Paulo, um jovem casal gay se beija apaixonadamente, ao seu lado um bando de manos da periferia com pinta de skatistas parecem não se importar com a cena. Umas patricinhas com a aparência de que acabaram de fazer 18 anos entram no bar, veem o beijo e comentam entre elas: Que delícia!
Essa cena parece revelar que a noite, sempre acusada de fútil e vazia, ilumina-se de tolerância nesses instantes e nos dá uma bela lição
No dia 17 de abril de 2009, Jaheem Herrera, 11 anos, se enforcou dentro do closet de seu quarto com um cinto, no Estado da Geórgia, Estados Unidos. Ele foi vítima do chamado bullying, uma espécie de ato repetido de agressões verbais e/ou físicas praticadas por um grupo de alunos para intimidar, causar angústia e medo em um outro estudante. O motivo? O mesmo que fez uma semana antes o também garoto de 11 anos, Carl Walker-Hoover, em Massachusetts cometer suicídio. Eles eram “acusados” pelos outros alunos de serem gays.
Sejam eles homossexuais ou não, o que os dois terríveis fatos nos escancaram é que os dois meninos pagaram um preço alto por serem apenas diferentes, por não se comportarem como gado.
E nesse momento, a escola e seus professores que se calaram diante o que estava se desenhando na sua frente se tornaram sombrios. Foi uma triste lição.
Isso nos faz refletir sobre o preconceito. Muitas bichas adoram se vangloriar de não ir a boates gays ou gls, de nunca sairem na noite como se isso as revestissem de uma aura de castidade e pureza. Mas são exatamente nesses espaços que estão as nossas escolas, que aprendemos que é normal ser diferente, que existe tolerância e que podemos e devemos nos defender de qualquer bullying ou chacota.

POR UMA POÉTICA FASHION

Fiquei muito intrigado e pensando o que levou alguns comentários no post sobre Um dos Dois Lados da Moda a acharem que aquilo que segundo o Youtube foi exibido ao vivo em um canal local de Pernambuco era algo fake. Primeiro pensei que era uma diferença regional e como comentei no próprio post: “Quem assiste tv no Nordeste vê muito essse tipo de reportagem, mais solta, longe do padrão boneco duro do Sul maravilha”. Mas depois pensei se não foi o clichê do discurso da repórter com textos como “tá super em alta”, “valorizam o decote aliando…”, “eles contam com leveza e trazem jovialidade para os looks” que possa ter dado o tom fake ao vídeo. Termos tão usados e que acabam perdendo o seu significado, fica apenas o signo “sou expert em moda pois domino sua linguagem”.
Nesse sentido, volto para um texto que teve uma certa repercussão aqui no blog onde anuncio o uso desproporcional da palavra crise, seu desgaste e seu aparte colonizador, já que a palavra serve muito mais como cópia da crítica dos editores interncionais do que uma análise pertinente na maioria dos casos. Sem falar que o desgaste de uma palavra leva ao seu clichê e por fim ao seu esvaziamento e a idéia de fake, isto é, ela pára de revelar algo.
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Penso nisso como algo sintomático nos textos de moda – eu mesmo não sei como me livrar de tantos clichês que caem sobre meus textos – e uma reação por uma verdadeira poética na crítica de moda seria um passo necessário, apesar de difícil, mas não impossível para uma nova crítica de moda.
Vejo felizmente sinais – pelo menos de questionamento – do uso excessivo de certos termos na moda que com o tempo esvaziam seu significado e acabam por nada dizer.
No texto de Alcino Leite na coluna Última Moda que escreveu sobre o desfile da Jil Sanders em Milão para o inverno 2009:
Certos críticos chamaram-na de “futurista”, mas o termo virou um clichê no meio da moda. Não há nada de futurista na coleção de Raf Simons: há apenas uma ousada experimentação com formas circulares, o tratamento hiperbólico das dobras e ondas das roupas, o desejo de desafiar a fixidez da silhueta.
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Olhos livres para a crítica de moda! Acima de tudo como Raf Simons os utilizou para penetrar na obra do ceramista francês Pol Chambost.
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PS: O uso da palavra poética também é um clichê!!!!