ANNA WINTOUR E O CASACO DE ONÇA


Quando a mais poderosa editora de moda do planeta aparece vestida por quatro ocasiões muito próximas com um mesmo casaco de onça, algo está sendo sinalizando. E é muito mais do que uma mudança comportamental ou uma nova tendência que tem o aval do topo da pirâmide da moda a todos repetirem roupas como um fator de elegância. Ela explicita paradoxos da moda e seu momento de crise.

Sobre o quesito comportamental, ícones de elegância atuais como Kate Middleton já provaram que a chamada roupa repetida já não é um problema entre as mulheres requintadas. Apesar desse evento ocorrer faz pouco tempo, não se discute mais nas fúteis listas de estilo se é certo ou errado, apenas é um fato.

Mas o que Anna Wintour coloca em sua repetição de roupa não está só no campo do comportamento, está no terreno da ideologia e da política – da moda e do mundo. Se a ideologia da moda e do mundo está – neste estágio do capitalismo tardio – atrelado ao consumismo, ela se mostra amiga da onça e faz como que um manifesto contra o consumo desenfreado, base tão fundamental da moda com suas inúmeras coleções por ano e por uma obsolescência de imagens com velocidades assustadoras. De certa forma, ela joga contra aquilo que Gilles Lipovetsky chama de Sistema Moda.

Se ela está em diálogo com o Sistema Moda, que é muito superior ao mundo da moda – basta ver por exemplo como o sistema moda age em áreas como a tecnologia celular com os modelos que são novíssimos ficando antiquados em questão de meses –, ela também está de certa forma fazendo um manifesto político.

De forma silenciosa, seu casaco de onça fala sobre consumismo, crise e criatividade. Mas engana-se quem acha que a editora está se posicionando de forma revolucionária ou anárquica. Não existe nada mais atrelada à indústria de moda que a Vogue americana. Anna Wintour só está legitimando e procurando soluções para aquilo que já está acontecendo com os bancos e o sistema financeiro.

Como diz o velho ditado popular: “Chegou a hora da onça beber água”.

6 Respostas para “ANNA WINTOUR E O CASACO DE ONÇA

  1. Eba! Que bom que o blog voltou. Gosto de acompanhar 🙂 Aquilo da Val Malchiori que tinha escrito… Você tem razão e claro que não é apenas culpa do meio, mas a influência é muito forte. Justamente este comportamento consumista – das “labels” – que a moda (e imprensa, óbvio) martela é o combustível pra muito do esnobismo daquela jeca embonecada. Bjos e sucesso!

  2. Repetir roupas sempre foi um paradoxo na Moda, né? Ou vc é “acusada” de
    atrapalhar o consumo, ou reverenciada por ajudar a diminuir o excesso dele.
    Há consequências graves de ambos os lados, sem dúvida.
    É engraçado ver este tipo de atitude (q aliás é antiga) de Anna Wintour, já que logo vem na lembrança as inúmeras páginas de propaganda da Vogue América.
    E, apesar dos holofotes em Kate, não é a primeira a fazer isso em se tratando de realeza. Por incrível q pareça, já li comentários maldosos de ingleses dizendo que a única coisa q Kate sabe fazer é compras! Olha outro paradoxo aí…
    Com certeza, estamos numa fase de reflexão em diversos assuntos e a Moda foi pega em cheio diante do q estamos vivendo. O Sistema da Moda vai ter q sofrer certas adaptações, querendo ou não, pelo menos, por enquanto. A prova disso é a Dona Wintour.
    Bjkassssssssss

  3. Vanessa Licciardi

    Acabei de conhecer o blog e gostei muito da sua reflexão e do ponto de vista crítico sobre os fatos do cotidiano. Adorei a referência ao Lipovetsky que realmente é uma ótima fonte de diálogo! Vou acompanhar mais seus posts!

    Abraços

  4. Parabéns pelo Dusinfernus.wordpress.com
    Quero desejar muito Sucesso e Saúde !
    Atenciosamente,
    http://www.FireBull.com.br
    http://www.facebook.com/FireBull.com.br

  5. O fato dela usar a pele de onça, não espanta ninguém mesmo? Desculpe, mas se ela usasse sandália havaianas branca de tira azul eu acho que ela realmente estaria contra o consumismo. Mas, pele de onça, um dos maiores mamíferos terrestres sul-americanos e absurdamente caçado, abatido por motivos diversos (e também condenáveis)é ignorância demais! Usar um animal sobre o corpo é justificável se a dona em questão (sei ler e a conheço, mas prefiro me referir à ela dessa forma) morasse em uma paragem inóspita, sem recursos e usasse da pele dos animais abatidos (vejam, isso se palica a sociedades isoladas, com baixo poder tecnológico e dependência total do meio natural) para usar e se proteger, fora isso, não é possível achar natural, desculpe.

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