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SINESTESIA NA MODA

synesthesia
Sinestesia é uma figura de linguagem próxima à metáfora que consiste em aproximar, na mesma expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos dos sentidos. Um exemplo: Senti um cheiro amargo ao ver o sapato verde.
Essa adorável confusão de sons e sentidos chegou a influenciar a escrita de moda [poderia influir mais] com o termo perfume, difundido por Suzy Menkes.
E nesse sentido, foi também assim pensada a nova loja em Paris de Issey Miyake que abriu faz menos de 1 ano.
O vídeo abaixo e a foto acima são do coletivo Terri Timely formado por Ian Kibbey e Corey Crease que trabalharam a sinestesia no mesmo grau de intimidade que temos com as roupas. Pois a nossa maravilhosa balburdia de sentidos se dá com as roupas em forum muito pessoal, doméstico. Veja no som do toque dos tecidos que nos trazem recordações e cheiros, na força das cores e das estampas que muitas vezes nos cegam ou nos podem lembrar frutas ou mesmo na silhueta de um vestido que nos recorda formas (ovo, a letra A, balão) toda a força sinestésica da moda.

AS ROSAS DE HIROSHIMA

bombaatomica
Engraçado que os tempos de hoje parecem não ter o mesmo medo do Apocalipse programado pelas bombas atômicas que as gerações que viveram a Guerra Fria. Era muito comum na década de 80 matérias sobre o que fazer se uma bomba atômica caísse perto de sua casa, quantas centenas, milhares vezes tantos os Estados Unidos e a falecida União Soviética eram capazes, pelo seu potencial atômico, de acabar com o mundo, como seria a vida na Terra no Day After e até quais as roupas apropriadas para uma hecatombe. Enfim, o mundo desde a Segunda Guerra até o final da década de 80 vivia sob a tensão do fim do mundo e de uma guerra sem vitoriosos.
Acabou a Guerra Fria e percebemos que todo marketing era em boa parte propaganda política, pois os países continuam com um elevado potencial atômico e, pior, países rivais, como Índia e Paquistão, ambos detentores da bomba, vivem em constante tensão. Sem falar nas ameaças da Coréia do Norte. Isso quer dizer, o perigo não passou, ele só deixou de ser tão midiático como nos anos da Guerra Fria e por isso nos parece menos assustador.
ResidentialStreetInHiroshimaAfterA-Bombing
Nunca estive em Hiroshima, mas pra mim é um lugar importante no mundo, de um valor simbólico incalculável. Lá, o estilista Issey Miyake nasceu em 1935 e aos 7 anos viveu toda a catástrofe de uma cidade arrasada por um poder até então desconhecido. E 3 anos depois, com 10 anos, perdeu a mãe em consequência dos efeitos da bomba atômica e adquiriu uma osteomelite.
Philadelphia-2
Toda essa tragédia não impediu ele de dar uma resposta positiva e um presente ao Ocidente. Sua moda desde os anos 80, ligada ao japonismo e que revolucionou o fazer e pensar moda, é fresca, inquieta e viva. Seus plissados, suas cores fortes nunca revelaram esse lado escuro de sua vida. Até porque como disse na carta aberta ao Presidente Obama publicada no jornal New York Times/ International Herald Tribune, ele não queria ser conhecido como “o designer que sobreviveu à bomba atômica”.
Nesse carta, que é o motivo desse post, Issey Miyake pede para que o presidente Obama visite Hiroshima no dia 06 de agosto – o dia em que a bomba explodiu na cidade e que é considerado o Dia da Paz Universal -, já sem culpados e inocentes, sem remoer o passado, ele diz para o presidente americano atravessar a ponte da Paz da cidade num ato simbólico para reafirmar nesse momento que todas as desavenças devem ser superadas, pois o perigo ainda é eminente, mas que devemos dar um passo contra o pavor de uma guerra atômica. Issey Miyake nos ofereceu uma rosa, muito mais espetacular e bela que a estúpida rosa de Hiroshima que foi como a explosão foi vista pelas pessoas nas fotos.