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SALVE GUERREIRO

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Não vou no Prêmio Moda Brasil esse ano pois estou em fechamento brabo. Apesar de não encontrar com alguns bons e queridos amigos da moda para uma sessão de risos como o ano passado, meu único pesar é não ver a homenagem à top editora e jornalista Regina Guerreiro que promete ser o ponto alto da festa. Com sua fama de diaba, ela subiu aos céus da moda e mesmo tendo seus detratores e colhendo inimizades durante sua vida sempre agitada, ela tem, por parte de uma nova geração de moda, todo o reconhecimento e admiração. Muito se deve ao fato de, em meio a uma relação muito promíscua entre estilistas, assessores e jornalistas, ela sempre escreveu e falou o que pensava – na medida do possível. “Tem anos que eu recebo flores, tem anos que eu recebo pedras”, disse Regina sobre o prêmio.
Nunca vou esquecer dela nas históricas e deliciosas transmissões da Direct Tv comentando que deveriam ter dado um sutiã ao Francisco Cuoco durante o desfile da Cavalera, porque ele estava muito peitudo.
Ela começou como secretária da editora Abril, em 1964 e logo começou a assinar uma coluna na revista Manequim, que era mais voltada ao público jovem. Não demorou muito e ela estava no comando da Claudia, Manequim, Ilusão e Contigo. Demitida da Abril por ser sofisticada demais, caiu na Vogue para fazer história. Ela conta: “Depois de quase 14 anos no comando, teve um dia que o Luis [Carta] esmurrou a mesa de reunião e gritou: ‘Essa revista se chama Vogue e não Regina Guerreiro’. Ficou claro para todos que a minha personalidade havia tomado conta da publicação”. O resto é mito!
Seu conhecimento de moda e de cultura, suas tiradas e frases de efeito, sua produção visual que podemos ser brindados hoje pelas duas edições anuais da Caras Moda só reforçam a admiração que o mundo da moda tem por ela. Sem falar do altíssimo grau de inteligência: “A gente não está aqui para reproduzir a realidade. Estamos aqui para sonhar a realidade”.
Salve Guerreiro!

SOBRE A EDIÇÃO DAS IMAGENS DOS DESFILES

Penso muito como na moda – e não só nela– caimos em fórmulas preguiçosas e esquemáticas como verdades prontas sem questioná-las. Tentei discorrer sobre isso no post sobre a fotografia de passarela. Para mim não ter detalhes muitas vezes muito importante das roupas e mais – não ter quase fotos das costas das roupas é um exemplo de como fotógrafos e editores se acomodaram em uma fórmula e uma visão de moda engessado. Como disse, muitas vezes a parte importante ou o complemento do que vemos na frente se fecha nas costas, mas os responsáveis pelas escolhas das fotos de moda parecem ignorar esse quesito.
Outro vício e que me dá uma agonia tremenda é ver fotos de desfiles empilhadas de qualquer forma tanto em sites, revistas e jornais. O mesmo acontece quando um editor quer mostrar uma tendência, eles nos abarrota e nos entupe de imagens sem o menor discernimento como que gritassem para nós: Olha quantas marcas fizeram tal silhueta! E isso ocorre sistematicamente em quase todas as publicações nacionais – seja ela virtual ou impressa – como esse essa fosse a regra e a maneira de se fazer.
Fala-se tanto que moda é imagem, ou que todos os fashionistas tem interesse por artes plásticas, mas a mínima relação entre volume, forma, cor não é sequer sugerida quando vemos uma edição de fotos de um desfile ou de uma tendência. Coloca-se uma série de fotos (que para o meu olhar parecem mais jogadas) e pronto, sem o menor cuidado para que elas façam uma composição de uma página ficar visualmente interessante. Pensar uma página, – seja de jornal, revista ou virtual – como um quadro, essa é a dica. Esse é o único momento que deveríamos nos curvar ao conhecimento de milênios das artes plásticas (ficar babando em peformance tosca de arte contemporânea é muito de quinta, quinto plano do que é exatamente ter conhecimento das artes visuais).
Escrevo isso porque mais uma Caras Moda está nas bancas, a de verão 2010, e ela é exatamente a exceção que comprova a regra. E folheando, me veio conversas que tive com Oliveros e Jorge Wakabara sobre o processo de edição de Regina Guerreiro. Lá existe lição de edição e licão de composição – recomendaria a todos os editores e todos que editam fotos de desfile uma olhada atenta. Percebe-se nas lições de Regina que amontoar fotos não conta nada, é preciso contar algo, que os modelos tem que estar em certas posições pois assim compõem a página melhor, tem equilibrio de cores.
Não podemos criticar uma imagem se somos ou aparentamos ser totalmente analfabetos visualmente. Existe um processo de educação do olhar que o leitor poderá captar melhor se bem feita.
Abaixo 3 imagens da Caras de Inverno 2009 [fotos super caseiras que tirei só pra ilustrar e dar uma ideia visual do que comentei acima]. Vejam como a edição cuida da passagem de cores, da tessituras dos tecidos, do jogo de volumes de cada página e da composição das duas páginas abertas e tem até um look de costas [para a minha felicidade]
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