Arquivo do mês: julho 2009

UNIVERSO A GO GO – A MODA SEGUNDO MARINÊS CALIL

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Marinês na Torre. foto: Fábio Motta

Marinês é uma das personagens mais enigmáticas da noite de São Paulo. Ela ficou muito em evidência no começo dos anos 90 (apesar de vê-la agitando bem na cidade nos 80) quando chegou a dar entrevistas para jornais e televisão sobre sua tese sobre os clubbers que fez para a Antropologia da FFLCH, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Usp – para quem conhece a Academia sabe que temas que flertam com o que está acontecendo right now e carece da chamada “perspectiva histórica” não são benvindos. Mas isso não parecia uma preocupação de Marinês na época, ela queria retratar o que estava vivendo. Se a tese ficou pronta, não sei…
Ela mesma sumiu durante um tempo e reapareceu anos atrás com uns makes absurdos indo à Torre ou ao Hell’s no Vegas com um carrinho de feira cheio de bolos e fanzines que ela distribui para quem lhe dá na telha. O fanzine: Universo a Go Go.
Nele, Marinês, na parte mais compreensível diz: “Marinês Antunes Calil é artista plástica, Bacharel em Direito e Bacharel em Ciências Sociais. Mestre em Antropologia pela Universidade de São Paulo, escreveu “A Aventura do Estilo – um pequeno estudo dos Fashion Clubs de Dance Music na cidade de São Paulo” e “O Retrato da Nation Disco Club – os neodândis do final dos anos 80’s” e está escrevendo “GOD is fashion – a nova Filosofia da Moda” e “Jantando na Selva”, um livro de etiqueta, e está preparando novo texto de Club Culture, Moda e Estilo, e arte jovem e pós-modernidade, e é autora-redatora do “Universo A GO GO”
Quando disse compreensível, não foi no sentido demeritório. Como Glauber Rocha em seus últimos escritos, trocava a grafia das letras dificultando a leitura (um exemplo clássico do cineasta baiano era que ele escrevia estética assim: Eztetyka), Marinês também se utiliza desse procedimento de escrita misturando também com o francês, inglês e italiano – as línguas da moda.
O fanzine, meio delirante como a moda, traz uma escrita quase indecífravel com críticas de desfiles como: “Osklen faz laá mmmoôóòddée lascée em vérbbéêéè dé rock” ou “Patrícia Viera faz lóoukc de especialista em geomhéetricous e couros…!!!!!!!!!!” ou quando escreve sobre uma antiga coleção de Fause Haten diz: “O ballonné. Ninguém gosta. Todos e todas querem se enfiar na Bomboniére e sair gritando que a roupa é liiiiiinda…….!!!!! bom. Era isso. Saia em éergaaevéée. Parte blusa em casaquito de aabaérvaavêée. Cintos de apertar a alma. Inteira. Ali dentro.”
Sem falar que ela é sempre grata a Maison Chanel e faz também uma espécie de dicionário que chama de COLLEZIONI – Passarelle. Um exemplo:
Domar: ter para ser considerado fora de si
Hegemonia: o nome da posição principal dentro de uma curva de aparição
Vanguarda: um nome de onda que não aparece sem crespos

Essa nonchalance e ao mesmo tempo essa seriedade – através de muitas mitificações da moda – (podemos até pensarmos que é algo pseudo-sério, mas isso é nossa resposta como leitor), faz do fanzine de Marinês um objeto único pois nos coloca em xeque – fashionistas e não fashionistas: Sabemos o que é mito ou não construído pela moda e em relação a ela? E ainda: Sabemos rir de nós mesmos em relação à moda?

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Marinês sabe. foto: Fábio Motta

A CARICATURA

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Caricatura de Brüno feita por Pablo Lobato para New Yorker

Existe um pensamento comum ou “representação social”, como prefere chamar de forma mais elaborada o psicólogo romeno Serge Moscovici, que todos dizem que o mundo da moda é uma caricatura e, ao mesmo tempo, em movimento inverso, o mundo da moda sempre se sente retratada de modo caricatural pelos que estão fora dele.
Essa “crença” – pensando ainda em Moscovici -, apesar de desagradar ambos os lados não está longe de uma verdade, se pensarmos que a moda – e mais que tudo, a imagem de moda – nunca foi dada a nenhum tipo de literalidade em relação à realidade e muito menos com a chamada verossimilhança. O desapego à realidade ou melhor ao realismo nas narrativas tanto das passarelas como dos editoriais de moda nunca foi ponto de debate e discussões acaloradas como o é para outras manifestações culturais e artísticas. Salve Steven Meisel na Vogue Itália:
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A moda nunca precisou colar-se a realidade (como por exemplo é cobrado a toda hora do cinema) porque seu veículo maior – a roupa – transborda-se de realidade. Basta darmos um exemplo bem clichê: quando vemos uma foto de pessoas identificamos sua era, o seu tempo e sua realidade no primeiro momento pelas roupas que essas personagens estão vestindo.
Talvez por esse caráter, a imagem de moda sempre plainou por ares mais surreais, por uma irrealidade, pelo campo do sonho. Pensando por essa lógica, podemos compreender com mais precisão – e menos preconceito – porque o corpo das modelos, assim como seu andar é algo irreal; podemos nos surpreender pelo que pensamos ser uma alienação da moda (essa fuga da realidade tão criticada e ao mesmo tempo tão pouco compreendida) ser um outro tipo de dispositivo para dialogar com essa realidade, assim como o fizeram os surrealistas. A grosso modo, a moda faz uma caricatura da realidade!

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Schiaparelli – shoe-hat (chapéu-sapato)

Enfim, caricatura é um desenho de um personagem da vida real mas que enfatiza e exagera as características principais do retratado, acentuando sua individualidade [papel importantíssimo de um aspecto da moda] no que lhe é mais peculiar: gestos, vícios e hábitos. Mesmo assim, ao desfigurar a realidade a caricatura acentua e prioriza verdades dessa realidade. Não à toa a palavra vem do italiano caricare que significa carregar, no sentido de exagerar, aumentar algo em proporção, carregar nas tintas.
Ao olhar atento e livre, a moda ao carregar nas tintas a realidade, nos mostra um outro lado dessa mesma relaidade. Talvez um lado até então obscuro ou muito pouco salientado que só é revelado pelas caricaturas, essa força capaz de jogar uma outra luz e nos vislumbrar.
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Caricatura minha que recebi na saída do último SPFW

PS: Talvez o streetwear seja a corrente de moda mais ligada a um certo realismo, mas isso é assunto pra outro post…

A MARCADA DE MARC

Recentemente saíram as fotos das camisetas militantes que o estilista Marc Jacobs fez em defesa do casamento gay e seus desdobramentos como a adoção de crianças. Ela diz: “Pago meus impostos, quero meus direitos”…
O que parece uma boa causa, esconde uma ideia perversa como bem salientou Antonio Farinaci no blog Sélavy.
Só os gays que pagam impostos tem direitos? É uma total inversão de valores pois não precisa pagar para se ter direitos – em tese. O direito no Ocidente – com a Declaração dos Direitos do Homem – se adquire desde o nascimento dos homens e está acima dessa lógica capitalista.
Aliás, eu não pagaria nada por essas camisetas, elas são horrorosas,- nem de graça – prontofalei.
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DE LUA – O FUTURISMO NA MODA


Exatamente às 23 horas, 56 minutos e 20 segundos do horário de Brasília, do dia 20 de julho de 1969, o homem chegou à Lua. “Este é um pequeno passo para o homem, um gigantesco salto para a humanidade” disse o astronauta americano Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar em solo lunar. E ao avistar a Terra de lá, tirou “as tais fotografias em que apareces inteira, porém lá não estavas nua, e sim coberta de nuvens”.
Passado 40 anos, esse momento poético da tecnologia visto por cerca de 1,2 bilhão de pessoas é ainda um assombro. Esse pequeno grande passo da humanidade encerra uma das décadas mais alucinadas de toda a história do homem. A década de 60 se encerra no Mar da Tranquilidade.
Nesses dias de comemoração dessa viagem fabulosa – em todos os sentidos que tem essa palavra – um amigo disse que propriedade, o Homem chegou à Lua em 1969, mas o Cinema já tinha ido pra lá em 1902 com Georges Méliès – o pai da ficção no cinema – com seu estrondoso “Le voyage dans la Lune” (“Viagem à Lua”).

Se o Cinema chegou antes dos homens na Lua, a Moda também vestiu e imaginou a roupa espacial um pouco antes dos acontecimentos, talvez excitada pelo discurso do então presidente John Kennedy no começo dos anos 60 dizendo que o homem iria para o espaço e chegaria na Lua.
O futurismo em artes plásticas, poesia, música e arquitetura aconteceu na década de 10, mas igualmente ao futurismo na moda que é dos anos 50 e principalmente 60 nas personas de Pierre Cardin, André Courrèges, Paco Rabanne, o dois movimentos tem em comum e como princípio uma violência com o passado, de negação até, o olhar é para o futuro, sempre.
25276-large Pierre Cardin, 60’s
Se o futurismo de 1910 se apoiava na guerra, de alguma maneira o futurismo de 1960 se apoiva na Guerra Fria e no seu resultado mais emblemático: a corrida espacial. Pensar o futuro era pensar na roupa que vestiríamos no espaço, quando nossas vidas não seriam apenas na Terra. Os looks de um filme hoje clássico como “2001, Uma Odisséia no Espaço”, poderia muito bem ter saído de uma coleção de Cardin.
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dois looks de 2001
É sintomática na década de 60 – e talvez em todo o século 20 até aquele momento -, a fé no futuro e no progresso e como isso naturalmente nos traria um mundo melhor. Pensar pra frente, nunca olhar pra trás, uma dinâmica do modernismo que começa a perder sentido poeticamente no Mar da Tranquilidade, pois passado uma década, já nos 80 começariamos a olhar sempre para trás, para o passado. E no caso da moda, esse movimento é muito mais acentuado.
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Courrèges, inspiração forte para o hoje chamado retrô-futurismo
Mas é sempre importante ressaltar a força propulsora do futurismo com sua dinâmica de seguir em frente. Foi unindo signos do futurismo e olhando para trás, para a história da moda, que Hussein Chalayan fez – na minha opinião – a entrada da moda no terceiro milênio em 2006.
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Hussein Chalayan, verão 2007, look inspirado em Paco Rabanne
Bom, tem um amigo que diz que na Música, o homem já chegou em Marte desde 1972 e trouxe até umas aranhas de lá.

COLUNA DA REVISTA DA FOLHA DE SÃO PAULO 26/07/2009

A sétima arte tem se debruçado nesse ano com bastante prazer (ui) seus 24 quadros para os problemas de vida e figurino do povo da 24ª. Diferentes narrativas, estilos e histórias tem colocado nas telas de cinema questões vitais para os homossexuais.
“Milk – A Voz da Igualdade”, de Gus Van Sant abriu o ano (nada de trocadilhos!) nos colocando com clareza que estamos ainda no obscurantismo dos direitos civis. A saga do político assumidamente gay Harvey Milk, seu assassinato e a força das mobilizações nos colocam em xeque. Ainda trilhamos muito pouco desde a morte do ativista americano.
Já “Brüno” de Sacha Baron Cohen vai no avesso da questão para expor o mesmo problema. Uma bicha bem alienada percebe que pra ser celebridade – seu grande sonho – é preciso ser heterossexual (uma sutileza do filme pra indicar como os homossexuais são personas de segunda categoria). Para isso frequenta cursos de conversão de “bees” em héteros – como os da psicóloga Rozângela Alves Justino que por pressão dos grupos gays (ecos de Milk) está sendo processada e pode ter seu diploma cassado pelo Conselho Federal de Psicologia, já que a Organização Mundial da Saúde retirou a homossexualidade da classificação internacional de doenças em 1990.
E por fim, “De Repente, Califórnia”, de Jonah Markowitz é sobre dois surfistas gays (olha o fetiche!).Um deles tem dificuldade de se assumir, esse um exercício político importante e que a maioria dos homossexuais em algum momento já travou em sua vida.
Parafraseando o cineasta Jean-Luc Godard: “Tudo que você precisa para um filme (gay) é uma arma (política) e um boy”.
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SINESTESIA NA MODA

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Sinestesia é uma figura de linguagem próxima à metáfora que consiste em aproximar, na mesma expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos dos sentidos. Um exemplo: Senti um cheiro amargo ao ver o sapato verde.
Essa adorável confusão de sons e sentidos chegou a influenciar a escrita de moda [poderia influir mais] com o termo perfume, difundido por Suzy Menkes.
E nesse sentido, foi também assim pensada a nova loja em Paris de Issey Miyake que abriu faz menos de 1 ano.
O vídeo abaixo e a foto acima são do coletivo Terri Timely formado por Ian Kibbey e Corey Crease que trabalharam a sinestesia no mesmo grau de intimidade que temos com as roupas. Pois a nossa maravilhosa balburdia de sentidos se dá com as roupas em forum muito pessoal, doméstico. Veja no som do toque dos tecidos que nos trazem recordações e cheiros, na força das cores e das estampas que muitas vezes nos cegam ou nos podem lembrar frutas ou mesmo na silhueta de um vestido que nos recorda formas (ovo, a letra A, balão) toda a força sinestésica da moda.

PENSAMENTO FRACO DE DOMINGO

A sandália da Beyoncé é o retrato do mundo atual!

BOMBA FASHION: MAFUÁ JEANS

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detalhe que a produção é toda de minha amiga Baiane Vreeland

Segundo Marcelle e Johnny Luxo essa é a mais nova bomba fashion da atualidade: Mafuá Jeans.
No Facebook, Johnny publica inúmeras notícias da mais ultra mega hype tendencinha da temporada:

EXTRA! EXTRA!! MODA FÉXION EM CHAMAS!! MAFUÁ JEANS FOI COMPRADA PELO GRUPO BAFO STORE E SE TORNA O GIGANTE DO JEANS!!!


MAFUÁ JEANS INAUGURA MEGASTORE BAFO NA OSCAR FREIRE E HUMILHA DASLU E TÂNIA BULHÕES…KKKKK PRESENÇAS CONFIRMADAS: CALYPSO, STEFHANY, SILVETTY MONTILLA, MOALLY MOFARREJ, TIGA, DAVID GUETTA, BIAFRA, LUCINHA LINS, RIHANA, NEUZZZINHA BRIZZZOLA, LA TOYA JACKSON, SYLVIA GATTI…KKKKK


BOMBA NO MUNDO DO FÉXION BUSINESS!!! MAFUÁ JEANS COMPRA SHOPPING CIDADE JARDIM E LANÇA O MAFUÁ FÉXION WEEKKK 30 MARCAS JÁ CONFIRMARAM PRESENÇA NO LINE UP: OSMOSE JEANS, DENÚNCIA JEANS, BABUCH, LILICA RIPILICA, BERTA BRAZZZIL BUTIKI, MONGOOSE, COLCCI, KELFi, COLOMBO, BESNI, MAGAZINE LUIZA EXTRA, SIMULASSÃO, FUXICO JUNIOR, MAFÚ VINTAGE, RONALDO ÉSPER COUTURE, ORLANDO XIKETO, ARTUR CALIMAM, SYLVIA DESIGN, BAFO STORE…KKKK

MOALLY MOFARREJ LANÇA LINHA ESPECIAL DA MAFUÁ JEANS PARA BAFO STORE….KKKKKKKKKKKKK

MAFUÁ JEANS ANUNCIA A COMPRA DA MAISON LACROIX E DO MAGAZINE LUIZZZA…KKKKK

AS ROSAS DE HIROSHIMA

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Engraçado que os tempos de hoje parecem não ter o mesmo medo do Apocalipse programado pelas bombas atômicas que as gerações que viveram a Guerra Fria. Era muito comum na década de 80 matérias sobre o que fazer se uma bomba atômica caísse perto de sua casa, quantas centenas, milhares vezes tantos os Estados Unidos e a falecida União Soviética eram capazes, pelo seu potencial atômico, de acabar com o mundo, como seria a vida na Terra no Day After e até quais as roupas apropriadas para uma hecatombe. Enfim, o mundo desde a Segunda Guerra até o final da década de 80 vivia sob a tensão do fim do mundo e de uma guerra sem vitoriosos.
Acabou a Guerra Fria e percebemos que todo marketing era em boa parte propaganda política, pois os países continuam com um elevado potencial atômico e, pior, países rivais, como Índia e Paquistão, ambos detentores da bomba, vivem em constante tensão. Sem falar nas ameaças da Coréia do Norte. Isso quer dizer, o perigo não passou, ele só deixou de ser tão midiático como nos anos da Guerra Fria e por isso nos parece menos assustador.
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Nunca estive em Hiroshima, mas pra mim é um lugar importante no mundo, de um valor simbólico incalculável. Lá, o estilista Issey Miyake nasceu em 1935 e aos 7 anos viveu toda a catástrofe de uma cidade arrasada por um poder até então desconhecido. E 3 anos depois, com 10 anos, perdeu a mãe em consequência dos efeitos da bomba atômica e adquiriu uma osteomelite.
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Toda essa tragédia não impediu ele de dar uma resposta positiva e um presente ao Ocidente. Sua moda desde os anos 80, ligada ao japonismo e que revolucionou o fazer e pensar moda, é fresca, inquieta e viva. Seus plissados, suas cores fortes nunca revelaram esse lado escuro de sua vida. Até porque como disse na carta aberta ao Presidente Obama publicada no jornal New York Times/ International Herald Tribune, ele não queria ser conhecido como “o designer que sobreviveu à bomba atômica”.
Nesse carta, que é o motivo desse post, Issey Miyake pede para que o presidente Obama visite Hiroshima no dia 06 de agosto – o dia em que a bomba explodiu na cidade e que é considerado o Dia da Paz Universal -, já sem culpados e inocentes, sem remoer o passado, ele diz para o presidente americano atravessar a ponte da Paz da cidade num ato simbólico para reafirmar nesse momento que todas as desavenças devem ser superadas, pois o perigo ainda é eminente, mas que devemos dar um passo contra o pavor de uma guerra atômica. Issey Miyake nos ofereceu uma rosa, muito mais espetacular e bela que a estúpida rosa de Hiroshima que foi como a explosão foi vista pelas pessoas nas fotos.

JONTE’ E OS STYLISTS

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Jonte’ é um dançarino fantástico e pra mim o mais interessante coreógrafo hoje, desde que minha paixão pela dança se tranferiu para a chamada dança de rua pois acho muito mais espontânea e menos programática. Vejo na parte da street dance que ainda não foi absorvida como um valor positivo para a Dança pelo seu caráter pop – apesar dos esforços de alguns acadêmicos e bailarinos – a verdadeira vontade por uma dança mais expansiva e experimental – muito mais que muitos dos laboratórios que vemos nos teatros e nos grupos de dança, mesmo aqueles que como o excelente Wim Vanderkeybus tem na sua melhor parte o diálogo com esses movimentos e momentos da dança de rua, na minha opinião.
Posto isso, acho Jonte’ genial por ele recriar de maneira muito especial as coreografias em grupo, que desde o ballet clássico são parte fundamental… para abrir os solos, herança que vemos até hoje no jazz e no pop [pra lembrar novamente Michael e seus bailarinos que abriam as coreôs para seus solos espetaculares].

Jonte’ traz a questão do grupo muito forte, pois todos são parte integrante da dança e a questão coletiva é preponderante. Isso não é novo em dança, é bom lembrar, mas em geral está quase sempre em um segundo plano, em sua parte mais introdutória [as coreôs de tirar o fôlego de Busby Berkeley para os filmes de Hollywood na década de 30 e 40 sempre criaram esse clima de coletividade surreal de maneira a introduzir ou acompanhar o mote principal]. Também na dança, grupos como o Momix e Débora Colker exploram o coletivo em suas coreografias. A ligação e o estudo dos movimentos dos esportes em Colker não é em vão, pois na maioria deles – os esportes – reina o senso de coletividade, mas no caso de ambos o grupos de dança esses movimentos estão ainda muito ligados à uma mímese e não apresentam o grau de organicidade e pulsação que as coreografias coletivas de Jonte apresentam.
As coreôs que ele cria para a Beyoncé tem um sentido forte de grupo que nunca abre para o solo de dança de uma estrela, apesar de ainda ter uma hierarquia, ela é muito menos pela dança e sim pela luz e pelo canto.
Além de causar na cena novaiorquina, se montar de maneira abravanada, Jonte’ é especial pra mim por essa questão do grupo, do coletivo em suas coreôs, que sim, são uma tradição na dança, na dança americana e na streetdance, mas revista de maneira diferente.
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Mas o que isso tudo se refere aos stylists e à moda? Em um paralelo entre o trabalho de Jonte’ principalmente pra Beyoncé, mais do que imprimir uma marca (a cantora texana sabe o quanto o que ela dança tem relação com o estilo de Jonte’) é fazer a marca e o dono da marca nunca esquecer o senso de coletividade [para além do chavão que a moda é indústria], por mais difícil que às vezes isso possa parecer, pois egos inflamam, mas acredito cada vez mais que esse é o papel dos stylists.