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POR QUE TANTA SEMANA DE MODA NO MUNDO?

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Depois de conhecer a semana de moda de prêt-à-porter em Paris, voltei muito inquieto por constatar que a Moda – o sistema, a lógica e a realidade – pouco se encaixavam naquilo tudo que via. Temos uma sensação mentirosa – fruto da época que os desfiles de couture difundiam realmente o que deveria ser usado por todo mundo – que o que vemos em uma semana de moda realmente dialoga direto com a realidade de moda e que a influencia. Diálogo existe, mas em outra escala.
Hoje uma semana de moda tem mais um sentido publicitário de divulgar outros assuntos além-moda. E ela entrou no calendário cultural de diversas cidades – como existe semana de moda no mundo! – muito mais pelo caráter marqueteiro do que pela valorização da moda. Mesmo a moda ganhando um certo status cultural no mundo de hoje, ainda é vista como assunto de segundo ou terceiro escalão.
Claro que como disse o crítico literário Alcir Pécora para Alcino Leite: “A moda hoje é o que foi a música nos anos 60”. E pode parecer exagerado mas, no sentido publicitário, faz todo o sentido. O alcance que a moda tem de projeção de algo que está fora dela hoje foi o mesmo que a música pop teve nos anos 60. Então usa-se a moda para difundir objetos que estão em sua órbita como comportamento, design, luxo.
Enfim, o que quero dizer é que numa semana de moda existe muito pouca moda. Pareço cada dia entender melhor o que Mario Mendes um dia me disse que a moda realmente fazia todo o sentido nos desfiles de alta-costura.
Quando algo como a calça skinny ou o lenço palestino realmente ganham as ruas através da passarela – sim, o caso do lenço palestino é polêmico – parece que os estilistas marcaram um gol quase no fim do segundo tempo, mas no fundo foi a indústria que levemente se impôs. Talvez não seja à toa que uma estilista do porte de Clô Orozco diz hoje preferir ir no Premiere Vision – uma das mais importantes feiras de tecido do mundo – a assistir os desfiles da temporada.

PS: Exatamente por algumas dessas razões, a outra é de tentar historicizar minimamente uma marca que ainda durante esse mês e o outro escreverei no blog resenhas de coleções que desfilaram na SPFW. Quero me debruçar com mais prudência, sem o imediatismo do jornalismo e os holofotes de um espetáculo que a moda finge ser a atriz principal como fiz com um texto que muito prazer me deu, pois foi no solo do tempo e do passar do tempo que finalmente entendi a coleção de verão 2009 de Herchcovitch às portas de iniciar o seu inverno.