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DASPU (E A MODA?)

vaivaidaspuconviteVale
Minha amiga Sueli, que mora faz muito tempo no Canadá, me mandou esse link sobre a Daspu que saiu em terras estrangeiras. A matéria contextualiza a ONG de Gabriela Leite, Davida, voltada às doenças sexualmente transmissíveis e aos direitos das prostitutas e sua marca Daspu, que nasceu de uma paródia à grife de luxo Daslu, que na época até pensou em processar a criação de Gabriela.
É interessante ver que apelo e a simpatia que a Daspu desperta vai além das fronteiras. Lembro bem que em 2005 quando a marca foi criada, logo chamou atenção da mídia. Em um ato corajoso, elas apresentaram sua coleção fora do calendário carioca, mas durantes os dias que ocorriam o Fashion Rio. Mais corajoso ainda foi escolher o mesmo horário do desfile da Colcci que trazia ( e trará até quando?) a über model Gisele Bündchen. Lembro muito claramente dos jornalistas fashionistas se dividirem entre ir à Praça Tiradentes ver a estréia da Daspu ou ficar na Marina da Glória e ver Gisele. Na época, eu ainda trabalhava com Lilian Pacce e o GNT Fashion comeu bola e ninguém da equipe foi na Praça Tiradentes. Outros sites, revistas e jornais foram. Se minha memória não falha, Jorge Wakabara, Ivi Ivánova e Nina Lemos foram. A diferença da cara de saco cheio dos que ficaram na Colcci constratava com a cara de felicidade dos que foram na Praça Tiradentes no café da manhã do Gloria, o hotel que ficavam todos os fashionistas durante a temporada carioca.
E assim foi imediata a simpatia de muitos, mas muitos mesmo jornalistas e fashionistas que escreveram resenhas apaixonadas. A da Nina Lemos tinha a desfaçatez deliciosa de tirar ainda um sarro de quem ficou vendo a Gisele.
Com isso, quando a grife veio pela primeira vez para São Paulo trazida por Facundo Guerra e com desfile no Vegas, fui convocado para entrevistar Gabriela Leite. Só um detalhe do apoio que o povo da moda deu pra grife: o stylist Daniel Ueda foi convocado para esse desfile e se não me engano por um cachê baixíssimo ou mesmo de graça… Ai um fosfoxol nessa memória!
Bom, voltando a Gabriela, ela é uma figura espetacular, articulada, defensora das putas e me disse: “As putas tem seu lugar na moda, um lugar importante, afinal o que era Coco Chanel?”
Adendo: Pensando nesse viés, “o que é a última coleção da Balmain?” Ropahrara já!
Sou do time que tem imensa simpatia pela Daspu e a marca mostrou sua coleção de verão 2010 na Praça Tiradentes, Rio, no dia 26, e na quadra da Vai-Vai, em São Paulo, no dia 27. Não fui a nenhum dos desfiles, mas vendo as fotos, foi profunda a minha decepção. Acho que existe um estereótipo pobre de puta feito pela estilista Alzira Calhau, do Rôdo Coletivo de Belo Horizonte [não acredito que toda a responsablidade seja da estilista, pois algumas passaram pela marca e o resultado sempre parece emperrado na primeira coleção]. Tudo parece muito mais uma piada do que algo que o nosso imaginário possa encontrar de “glamouroso” e afirmativo que as garotas de programa, principalmente daquelas que dominam a situação, devam ostentar. E depois de 4 anos, a grife deve dar espaço também (já que não quer abolir as camisetas com estampas engraçadinhas) para mais informações de moda. Nada depois desse tempo, é desculpa para subdesenvolvimento. A ideia excelente de Gabriela de ter uma marca que seja algo afirmativo da profissão de prostituta deve sair do papel e se transformar em roupa. Tenho imensa simpatia pelo projeto, mas já é hora de rodar a bolsinha pra outra direção, porque esse ponto já deu.
09238314