A CRÍTICA DE MODA

A vinda do professor de filosofia dinamarquês Lars Svendsen para o Pense Moda abriu uma discussão sobre a crítica de moda. Confesso que não li o seu livro “Fashion: A Philosophy” (Moda: Uma Filosofia) – que segundo as observações de Alcino Neto, no texto “Lições de Crítica e Liberdade”, me parecem interessantes -, mas seu recorte para mim não faz muito sentido hoje. Ele faz o diálogo entre moda e arte, enquanto acho mais salutar – na minha humilde opinião – o recorte entre moda e mundo ou moda e vida, para tentarmos constituir uma verdadeira crítica de moda. Se assim fizermos, todas as observações que Sylvain Justum fez da palestra de Svendsen ficam muito mais esclarecedoras.

Ao mudar o eixo arte para o eixo mundo, temos também maior clareza do papel do crítico. Ora, ele está no mundo, é agente ativo e passivo dos acontecimentos, então temos aí um primeiro passo: o crítico como sujeito. Diferente da ação jornalística que prima pela aproximação com a objetividade e com o imediatismo, a crítica necessita da subjetividade e do tempo de fermentação. Existe um tempo para que aconteça o encontro do que foi visto e o que irá ser refletido. Às vezes ele é muito rápido, mas nem sempre – ou quase nunca – ele tem a velocidade do jornalismo porque ele carrega subjetividade e não a objetividade prática das notícias.

Antes de falar desse paradoxo da rapidez do jornalismo de moda com o tempo da crítica, queria deixar claro que a questão da subjetividade que falo no papel da crítica não significa essa exarcebação do eu que vemos nas redes sociais e em muitas resenhas de moda sobre os desfiles, cheias de opiniões sem contextualização. Ela significa esclarecer ao leitor seus gostos, deixar claro sua linha de pensamento e sua visão de moda.

Se no jornalismo a velocidade da informação é cada vez maior, no jornalismo de moda ela é supersônica. Descarta-se com facilidade espantosa o que acabou de acontecer tornando-se antigo o objeto que acabou de surgir por não ser mais novidade e assim, sem os olhos e o debruçar dos jornalistas/críticos, tal objeto de assunto perde qualquer interesse de reflexão. Isso faz parte da dinâmica do jornal, mas não da crítica.

E uma postura que o crítico de moda deve adotar é resistir heroicamente em concordar com esse tipo de dinâmica, ele deve agir contra essa atitude para assim historicizar o objeto de moda. Só o que está – e permanece – no mundo e na história do mundo é que tem valor crítico, então colocar, recolocar, relembrar seja os desfiles, as peças de roupa, uma atitude comportamental na história, e não descartá-la como notícia antiga é papel crucial da crítica de moda. Refletir sobre coleções passadas, a história do estilista, as roupas das pessoas nas ruas de todos os tempos e outros ângulos da moda deve ser o motor da crítica de moda. Aqueles que fazem sua resenha pra embrulhar peixe no dia seguinte estão longe de uma verdadeira apuração crítica. E nesse sentido devemos colocar a crítica de moda em confronto – saudável – com o jornalismo de moda.

Por fim, por a moda estar em diálogo com o mundo, tudo que é do mundo pertence à moda, inclusive a arte. E a crítica não deve se abster de olhar o mundo através da moda. E no mundo não tem fórmulas, exatamente por isso a crítica de moda também não deve ter, da mesma maneira que não existem duas pessoas iguais em tudo no mundo, não deve ter milhares de “críticas” de moda iguais como o que ocorre ainda hoje. Acreditar que falar das tendências, da cor e da modelagem de tal coleção, está se fazendo uma crítica, pois assim se formatou um pensamento durante um tempo (obscuro) é trair não só a sua subjetividade, mas também a sua capacidade de ser um sujeito ativo no mundo – um crítico.

Será apenas esse o lugar da crítica de moda?

11 Respostas para “A CRÍTICA DE MODA

  1. Tenho cada vez mais preguiça de primeira fila de desfile. Nunca concordei mais com a definição da Saffy (a filha careta de Ab Fab): “Um monte de gente de óculos escuros com cara de quem acabou de vomitar tudo o que comeu”.

  2. Pingback: Tweets that mention A CRÍTICA DE MODA « dus*****infernus -- Topsy.com

  3. vitor, você está MEGA inspirado hein? só post incrível.

    e pegando carona no comentário do Mario Mendes, de que adiantar brigar, dar chilique e xingar assessor de imprensa no twitter para ficar na primeira fila, se vai escrever apenas pinceladas do que se viu nos primeiros 5 segundos após o desfile, sem nenhuma análise mais bem elaborada? só pelo status mesmo, porque muitos estão tão cegos quanto se sentasse na fila Z.

    bjsss

  4. A pressa é inimiga da boa crítica, né, Vitor!?! Eu acredito que as pessoas que querem ler um bom tempo esperam com prazer por ele!
    Vamos fazer uma campanha por um mundo mais calmo e mais gentil!!!!!!!!!

  5. no Rio vi criticos derrotando uma colecao sem mesmo dar 5 minutos para elaborar uma sintese mais analitica..coisa que na producao deve levar semanas s ou meses de construcao… lembrando seu otimo post do link da copia.. nao adianta os jornalistas incentivar o cutting edge da copia .pois cai na banalidade ofuscando a marca e trazendo em mente o criador em rapida era digital!

  6. falta muito embasamento histórico-artístico-sociológico nas críticas… Amo-te!

  7. Pingback: Entendendo Ronaldo Fraga « It's a Fashion Affair!

  8. olá,
    bom, nunca escrevi aqui mas de vez em qdo vejo seus textos e dessa vez eu quis dar pitaco 😉 desculpe a intromissao!

    concordo com vc que um dos gdes problemas em se fazer a crítica de moda é a falta de tempo para a reflexao.

    no entanto, acredito q juntamente com a falta de tempo, existe tbm, na maior parte das vezes, uma outra falta (talvez pior e com maiores consequências): a falta de informaçao.

    o que a gente vê por aí, nas críticas, e como vc mesmo falou, é mta opiniao. nao está errado, td mundo tem (deve ter) uma opiniao.

    o problema é que opiniao nao é crítica.

    crítica nao deve satisfazer o ego (nem do crítico, nem do criticado): deve analisar um objeto. e, pra se analisar um objeto (que pode ser moda, arte, literatura etc etc) é preciso ter mta informaçao! o crítico é sempre aquele que sabe mais do que os outros sobre o tal objeto – nao pq ele é especial ou tem bom gosto ou é descolado, mas pq ele se preparou pra isso.

    o crítico, o BOM crítico, é aquele que sabe mto, que entende e estuda o que critica e, por isso, consegue ver todas as suas possibilidades, todas as suas referências. ele é informado nao das tendências e dos modismos (deles tbm!), mas principalmente de história, de filosofia, de arte, de música, de literatura etc etc etc

    isso leva tempo, sim. mas nao o tempo de terminar um desfile e correr pro computador e escrever um texto de 1000 caracteres pro blog.

    leva tempo de vida.

    como isso td dá mto trabalho, as pessoas preferem ficar na zona de conforto da descriçao e do “achismo” e perdem a oportunidade de “ser um sujeito ativo no mundo – um crítico ” (resgatando o final do seu texto ;))

    bom, falei demais! bjs!

  9. sim,porque todas as pessoas estoa ororrosa

  10. Ótimo post. ^^’

Deixe um comentário