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REINALDO LOURENÇO NO ESPAÇO E TEMPO

“Se você pretende saber quem ele é, eu posso lhe dizer, entre nesse vestido do Reinaldo Lourenço e você vai se conhecer”. Essa paródia acima do clássico dos anos 1960 de Roberto Carlos, “As Curvas da Estrada de Santos”, pode muito bem espelhar do que se trata a moda do estilista. Existe uma reciprocidade de imagens entre o que ele cria e o que suas mulheres (clientes, musas, admiradoras) vestem que se por um momento essa motorista olhar pelo espelho retrovisor, ela se enxergará ao fundo, à distância se perder. O que Reinaldo é está claro em suas criações que se refletem em suas mulheres, que por sua vez realizam o desejo de elegância do estilista, ponto de partida de sua busca para novos looks. Assim, Reinaldo completa seu circuito, um circuito fechado como os autódromos.


Verão 2005, um sonho de dândi na Floresta Amazônica desconstruiu suas camisas

Mas a estrada é longa. Esse percurso se deu durante muito tempo na desconstrução das roupas como no seu excelente exercício sobre a camisaria em algumas temporadas atrás. Essa movimentação o levou para os estudos espaciais: design, arquitetura até chegar ao seu auge na famosa coleção do café, ainda dentro da chave do espaço.

Arquitetura e art decô novaiorquino para o inverno 2009

Na temporada seguinte, ele se debruçou sobre a espiritualidade, uma peça de transição entre o espaço e o tempo. E finalmente, nesse verão 2011, ele faz a velocidade irromper o tempo-espaço, então exatamente por isso ele pode sim ir parar nos André Courrèges da década de 60 ou na atual Paris de Nicolas Ghesquière. Isso pouco importa, se essas referências estiverem aditivando e à serviço de seu circuito fechado porque sempre será um projeto de Reinaldo.

Nessa temporada, para começar a entender melhor o tempo, ele se lança na velocidade. Na pressa, uma chemise se transforma em um mini-vestido ou uma minissaia é feita a partir de um avental, tudo está em movimento acelerado em sua coleção.

O tempo é curto e os vestidos do estilista também. Nessa corrida fashion,em muitos vestidos a visão confunde-se e vemos as urbanas ventuinhas dos motores de carros posantes como delicadas flores campestres – o estilista se utiliza do bordado manual em fitas de organza e faz uma leitura radical da tendência floral que infesta os desfiles da SPFW.


Verão 2011

A aceleração faz também que se entenda com mais rapidez como o design dos carros dialogam diretamente com os uniformes esportivos representados no desfile pelos vestidos mais gráficos e nas estruturas curvilíneas costuradas à mão. A coleção coloca possibilidades para a moda esportiva na chave da elegância.

Paradoxalmente, a peça chave é seu freio: o debrum – nome dado para os acabamentos reforçados em mangas, golas, bolsos e barras – que tem papel central como sinal vermelho para toda essa velocidade. É nele que a roupa para e reflete sobre sua modelagem, sua forma e sua essência. O debrum demarca o tempo e o espaço de sua roupa.


O grande paradoxo da velocidade, o limite: Debrum

E leva na esportiva quando escuta que a pressa é inimiga da perfeição. No caso de Reinaldo, ele nem tem tempo para essas bobagens!