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CASA DE CRIADORES – FASHION MOB


O dia estava nublado, parecia que ia chover, mas nada espantou a vontade das pessoas mostrarem sua própria moda numa espécie divertida de flash mob – aglomerações instantâneas de pessoas previamente marcadas em um local público para realizar uma certa ação. A Casa de Criadores realizou seu 1º Fashion Mob, nesse domingo, 22. O convite instigava: “Você é estilista? Artista? Político? Apaixonado por moda? Curioso? Se você respondeu a sim em qualquer uma das alternativas acima, ou a nenhuma, mas mesmo assim gostou da ideia, inscreva-se já para participar da primeira passeata fashion do Brasil!”
Foram 56 inscritos que apareceram com seus modelos, às 14 h, no Largo do Arouche, para uma caminhada até o Parque da Luz. Em fila indiana e com o sol abrindo forte, esses personagens utópicos da moda causaram estranheza e admiração durante todo o percurso. Alguns senhores assobiavam para as modelos enquanto um taxista perguntava: “Quem vai usar essas roupas?” Ao chegar no parque, um time de jurados formado por jornalistas de moda e estilistas, como Dudu Bertholini, Fabia Bercsek, Thaís Losso e Mario Queiroz, julgava cada inscrito. O vencedor apresentará uma nova coleção na próxima edição da Casa de Criadores.
“Esse evento é único para as pessoas que sonham com moda e nunca tem oportunidade de mostrar o seu trabalho. Ele é extremamente underground e democrático”, declarou para o Uol Estilo Fabia Bercsek, 31, depois de ver e dar nota para todos os concorrentes.
Para provar o sentido democrático e inclusivo do Fashion Mob, uma das inscritas, Carina Casuscelli, 30, trabalha apenas com roupas para pessoas com baixa estatura ou que sofrem de nanismo. Sua marca A Moda Está Em Baixa é toda voltada para “estudar as modelagens para pequenos”, como ela gosta de chamar seus modelos. Preferiu não apresentar uma coleção e sim um manifesto.

A moda de Carina Casuscelli e de Luiz Leite

Já o vencedor do 1º Fashion Mob, Luiz Leite, 34, trouxe toda sua expertise trabalhando em uma fábrica de jeans para apresentar uma coleção masculina muito bem amarrada. “A coleção se chama Luiz Leite by Eden e retrata um adeus a São Paulo por isso os modelos carregam malas e guarda-chuva”, conta o estilista autodidata com formação em psicologia. “Fiz todas as peças com tecidos 100% orgânicos e fiz questão de cuidar muito bem do casting. Fiquei receoso que os modelos pudessem pagar um mico durante a passeata, mas foi tudo muito bem organizado ”, afirma. A escolha acertada de modelos profissionais deu up grade na sua apresentação, já que a maioria trouxe amigos.
“Essa despretensão das pessoas [inscritas] foi o mais incrível. Os amigos não tiveram vergonha de vestir a roupa do estilista e de dar um showzinho na frente dos jurados quando era preciso. Com certeza tem 2 ou 3 concorrentes que tranquilamente poderiam estar no line up da Casa de Criadores”, diz a jornalista de moda Vivian Whiteman, 32.
De qualquer forma, abre-se uma nova possibilidade de pessoas apaixonadas por moda mostrarem seu talento. “Para mim ver um vestido bem amplo de tule com uma barra pesada de lã, já valeu ter vindo até aqui”, conta Bercsek.

Texto escrito especialmente para o Uol Estilo. Para ver as fotos e ler no site, clique aqui e aqui.

ENCONTRO DE GERAÇÕES

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Fábio Gurjão, Jorge Kaufmann, Marcos Brias e Nina Lemos

Nina Lemos ao conhecer Jorge e Ana Kaufmann me falou de imediato: “Eles precisam conhecer o Dudu”. Logo convenceu Marco Brias e os dois fizeram a ponte com os abravanados e tudo resultou na festa de sexta feira, dia 28, na casa do próprio Dudu, tudo feito de maneira informal, só para os amigos de ambas as turmas.
Alê Farah logo soltou notinha no dia seguinte no Glamurama e no fim a festinha teve também caráter de evento social mesmo. Mas longe da ideia de cada estampa era um flash, o que tinha ali era aparentemente muito mais modesto e ao mesmo tempo ambicioso.

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Dudu, Ana e Jorge Kaufmann e Reinaldo Lourenço

Já comentei aqui no blog que numa conversa com Alcino Leite, ambos cinéfilos, que achávamos estranho o isolamento dos estilistas, jornalistas de moda, fashionistas que diferentemente do pessoal do cinema que sai de um filme e comenta sem parar o que achou, suas decepções e seus deslumbres, a reunião entre fashionistas se dá em eventos sociais muito programados, preparados e anunciados na mídia com muita antecedênciae sem muito debate, tudo no amsi cordial “olá, querida”. Em geral, diz o povo da moda, por trabalhar em mídias diferentes (acredita-se muito nessa desculpa), o silêncio reina na troca de ideias. Como se “sua sacada de mestre sobre tal desfile ou estilista” fosse ser roubada por algum outro espertinho.
Ainda comparando com a 7ª arte, em um festival de cinema, os cineastas discutem seus filmes e os dos outros, existe uma troca intensa de opiniões e posições. Aqui na moda, só recentemente isso tem acontecido, muito modestamente, com uma geração mais nova de fashionistas que se reúne no bar/boteco, que entre xoxos e devaneios coloca suas posições ou mesmo depois do desfile existe uma troca de impressões sobre a coleção de uma maneira mais aberta, quase cinéfila e típica de uma atitude que está em formação. Bom, quero deixar claro que não digo que antigamente não tinha conversa ou troca entre os fashinoistas, mas se ela acontecia, acontecia de maneira insípida pois não gerou esse exercício que os cinéfilos tem desde o nascimento do cineclubismo ou quem sabe até antes. Não se historizicou essa troca de ideia e nem a tornou tradição entre os fashionistas.
Como um terreno muito novo, a moda no (ou do?) Brasil como expressão cultural, se formos generosos, tem por volta de 50, 60 anos e estamos começando a historicizá-la (ato da maior importância para não acharmos que descobrimos o ovo de Colombo)
Isolados, muito dentro de suas próprias casinhas, sem discussão (só medalhas) os estilistas e os fashionistas tendem a uma zona de conforto irreal.
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Ao promover o encontro entre Jorge e Ana Kaufmann (donos há 19 anos da grife Aquarela e figuras importantes dos primeiros Phytoervas, evento que desencadearia o SPFW) e uma nova geração de moda: Neon, Amapô, Fkawallys e os chamados abravanados, acontece um movimento de sair de uma imaginada zona de conforto e partir para o desconhecido, nem que disso apareça ou parcerias ou conflitos ou apenas mais uma festa, não importa, pois gerou movimento, historicizou personagens pois de alguma forma existe respeito e interesse dos novos fashionistas para quem já está na estrada da moda brasileira faz muito tempo.

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Marcelle, Carol e eu, já que foi também um evento social: flash!

DUDU ENTREVISTA NEY

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Como eu estava falando de estampas, vi essa no blog do Jorge, meu querido amigo cigano: Dudu Bertholini entrevista Ney Matogrosso para uma revista eletrônica muito bacana que se chama Dengue Mag do fotógrafo Christian Gaul. Achei uma grande sacada, algo que estava no ar e que ninguém ainda tinha feito.
Aliás gostei tanto da dica que estou reproduzindo aqui. Tem um editorial de moda feito pelo próprio Ney. E algumas coisas muito interessantes, agora a revista peca pelo excesso de afirmação do chamado “lifestyle carioca” que eu acho um grande equívoco conceitual e ideológico, mas isso fica pro post seguinte.
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A MELHOR CARA DO MUNDO

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AVAFANDO=ABRAVANANDO COM AS ARTES PLÁSTICAS E COM A MODA

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Fábio Gurjão realizou sua performance-ação-desfile-ação comercial na última terça, dia 2 de dezembro, abrindo os trabalhos da a.v.a.f. [assume vivid astro focus] que desta vez vem com o nome Axé Vatapá Alegria Feijão e encerra em clima de grande festa com direito a trio elétrico sua intervenção na Bienal do Pixo no sábado, dia 6 de dezembro.
A princípio, o evento aconteceria no andar do vazio, mas acredito que por problemas técnicos + ideológicos, eles preferiram deixar o segundo andar para o autoritarismo da arte contemporânea de vassalagem. Pois bem, foi tudo no térreo mesmo e o clima era de galpão de Escola de Samba.
Enquanto sua ação era realizada ao passar do tempo (das 19 às 22 horas) – não se esqueça que além do desfile tem a ação dos fotógrafos, trilha e araras para a compra das roupas ali mesmo -, um carro alegórico era preparado por Eli Sudbrack, Silvia e equipe, a cantora Cibele Cavalli que virou Kivelle Bastos, a persona abravanada estava realizando ali uma mandiga-instalação e o talentoso Ed Inagaki, que montou seu Ateliê Abstração na paralela da ação de Fábio e sua FKawallys, mostrou uma camiseta com capuz que ele chamou de fantasmando e que também nos remete ao uniforme dos presidiários e/ou guerrilheiros – muito oportuno para esse momento portas fechadas da arte contemporânea de vassalagem ou aos fantasmas que rondam o andar do vazio.
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Buuuu Bienal
Já na entrada, um clima diferente daquilo que Denis Rodriguez também desenhou e era tão verdadeiro durante os dias de Bienal que antecederam a chegada dos avafanados=abravanados: a opressão dos seguranças [acredito que para combinar com o andar vazio e o autoritarismo de seus curadores].
O ar estava mais leve entre os seguranças e alguns até queriam se enturmar com os abravanados. Eles nem revistaram minha mochila…
Ao chegar, muita gente tirando fotos, e Fábio já nos mostrou a cadeira Fila A e cadeira de Imprensa pra gente sentar na passarela. Quer iconoclastia melhor que essa?
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Nossa, essa roupa é uó! Pena que esqueci meu bloquinho…
As coisas corriam soltas, algumas pessoas compravam as roupas na arara, outras cantavam as músicas do rádio, outras ficavam paisageando, Bianca Exótica fazia amizade com os bombeiros…
E foi assim, sem nenhum alvoroço, numa relax, numa tranquila e numa boa que Fábio Gurjão anarquizou com o mundo das artes plásticas e da moda.
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Ao vender as suas camisetas dentro de um espaço de arte, ele evidencia o jogo do comércio disfarçado em simulacros de “arte” feito pelas galerias, museus e bienais. A questão grife é tão mais importante na arte contemporânea de vassalagem que na moda. Afinal um Jeff Koons vale mais que um Marc Jacobs, não?
Existe um valor para aquilo que não tem valor – o espiritual da arte? Por isso seu preço será sempre alto conforme não o seu valor artístico mas seu valor de mercado – em contraposição a isso, as camisetas de artista de FKawallys eram baratíssimas, tudo 30 reais.
Sem falar da ocupação de um lugar sagrado das artes com um desfile de moda – considerado até pelos próprios críticos de moda (?) algo menor que a suprema arte.
Para a moda, ele trouxe orgulho e auto-estima. Não existe terreno mais almejado por jornalistas de moda, estilistas, stylists que o terreno das artes plásticas. Muito pelo valor [falso] e o status [de novo-richismo]que hoje as artes plásticas ganharam. Talvez porque lá o valor da grife [no caso o nome do artista] foi criada de maneira tão escondida e dissimulada que consegue iludir que estamos no terreno do espiritual e não do mercado.
FKawallys está fora dessa etiqueta e dessa lógica canhestra. Em nenhum momento ela se acredita menor que as artes plásticas, não procura como a maioria dos fashionistas aliar-se às artes para ganhar status, esse ISO de ignorância.
Se trabalha dialogando com as artes plásticas é em pé de igualdade. Ele não se acha inferior por fazer moda e muito menos por realizar camisetas [infelizmente considerada carne de segunda na moda].
Ao porpor um desfile em plena Bienal, ele sabe que aquele pode ser um de seus espaços, não o único. E ao vender seu produto que é o mesmo que está sendo desfilado tudo ao mesmo tempo agora ele critica a lógica da chamada imagem de moda tão difundida entre os fashionistas. Essa lógica: a grande parte das vezes o que se desfila não é o que se produz. Cria-se uma imagem falsa da marca, pois na loja temos, em geral, aquilo que é do mais comercial [de alguma forma ele dialoga com o excelente desfile Do Estilista para o verão 2009].
Agora o mais importante, ao fazer essa performance-ação-desfile-ação comercial que outros “artistas” também se acoplam, onde todos, público, visitantes, compradores, funcionários da bienal podem participar [ atentando ao detalhe que a Bienal é de graça], enfim, ali se realiza uma ação de inserção e inclusão. Ao final ele obtém uma obra verdadeiramente duchampiana onde todos que participam são artistas e estilistas ou melhor, vivem a arte como o mestre da roda de bicicleta sempre almejou!
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PS1: E o melhor, disse Fábio Gurjão o tempo todo como autor [não que ele não tenha participação decisiva] no texto por conformismo da linguagem que precisa nominar, mas sinceramente as fronteiras se romperam pois eu não sei se foi a a.v.a.f. , os abravanados, quem apareceu por lá para criar isso tudo que aconteceu no dia 2 de dezembro. Enfim, na realidade foi uma confluência de idéias e desejos!

ABRAVANATION SOON

O artista plástico Rick Castro acaba de postar seu mais recente vídeo: “Super Rick Soon” no YouTube. Nele, Rick escreve que é “um trecho do vídeo […] que mostra o super herói RICK, vindo do mundo violeta, usando seus poderes de brilho e luz para salvar o mundo”.
A questão da cor é central nas artes plásticas brasileiras. Veja o caso Tarsila e seu status adquirido pelo uso das cores fortes e sempre em primeiro plano assim como todo o modo espartano que os concretistas tratavam a cor proibindo o uso de certos tons. O trabalho de Hélio Oiticica, hoje talvez o artista mais influente para uma nova geração, teve todo o seu percurso ligado a esse elemento, é só pensarmos que o parangolé, antes de ser um objeto de vestir, ou roupa mesmo (por que odeio esse puritanismo de escrita de curador) é também ao mesmo tempo o ato de liberar a cor para o movimento fora do quadro.
De certa forma Ricky, a Abravanation, A.V.A.F. e também a Neon na moda com Dudu Bertholini e Rita Comparato continuam esse trabalho tão caro à tradição visual brasileira.

YOKO & LENNON, JAGGER & BOWIE…

SPFW: A LADRA

Não, esse não é um post comentando sobre os inúmeros roubos que andam acontecendo dentro da Bienal durante o São Paulo Fashion Week e sim para falar sobre um sonho de Rita Comparato, a estilista da Neon junto com Dudu Bertholini.

Seu sonho: “se não fosse estilista seria ladra, não essas chinfrins, mas aquelas sofisticadas que rouba milhões”, comenta com uma naturalidade encantadora como se falasse de um bazar incrível que foi. Essa naturalidade que também existe no Dudu de uma outra forma fazem a alquimia da parceria. Com certeza, a marca que liberou a cor, o excesso e a exuberância de uma maneira unicamente brasileira.

E é exatamente em exuberância que penso quando vejo as imagens da Neon. Agora uma ladra assanhada, que frequenta o jet setter, amiga do povo da Cinecittá da década de 50/60, passa as férias em Chipre.

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O travelling das modelos sobre a passarela (feito por um carrinho de grua) foi como que elas deslizassem sobre a platéia e ao invés de usar a mão boba para o assalto, nos seqüestravam com o nosso olhar bobo tamanha perante tanta feminilidade.

Ladra que rouba ladra, elas sempre apareciam em um look de moda praia e outro mais comportado. O efeito era sexy!

Ponto para o maiô com grafismo étnico, para o jacquard e para os cintos.

Exclamações para os óculos e estampas.

Um filme policial maravilhoso seria!

Corta!

Interrogação: Ladras não exuberantes passaram a mão em tudo quanto era brinde e releases da marca que estavam nas primeiras filas. Uma gente muito distante da imagem que a Neon criou!

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