Faz algum tempo que estou de olho no trabalho fotográfico de Marcelo Gomes. Faz algum tempo que Nucool começou uma reflexão interessantíssima sobre o que eu chamo de um certo novo naturalismo (digo um certo novo naturalismo evocando “Um Certo Capitão Rodrigo”, do gaúcho Érico Veríssimo, conterrâneo da stylist Lelê Toniazzo, namorada e musa de Marcelo Gomes). Faz algum tempo que já comentei como estar atento à beleza dos desfiles – maquiagem e cabelo – pode dizer muito mais sobre o comportamento de hoje que muitas outras manifestações.
E foi olhando uma tendência cada vez mais recorrente de uma maquiagem limpa, sem excesso – “cara de bonita” – que elimina a aparência da maquiagem em nome de um ar mais natural, que percebi como na música de Sigur Rós que o mundo deseja se simplificar, no melhor dos sentidos. Adoro quando os maquiadores falam pra mim que a beleza de tal desfile foi pensada como se a mulher acordasse e saísse direto pras ruas – eu ouvi de muito deles esse discurso nas últimas temporadas. Para a beleza, o lance é ser natural!
Esse certo novo naturalismo tem muito de uma volta à natureza, ao natural mas sem dispensar os aparatos tecnológicos dos tempos que vivemos hoje. Mas mais que isso é uma volta à essência das coisas e do mundo e dos homens e das relações.
É isso que sinto quando vejo as fotos de Marcelo Gomes, quando sua narrativa afiada, precisa e hipersensível aponta para essa direção.
o universo colorido e lúdico do stylist Dani Ueda é sua essência mesmo vestido em preto e branco na companhia de Lelê
relações: o cerne de uma amizade – Fernando e Thiago
Zee Nunes e namorado: a docilidade travestida de masculinidade
Marcelo Gomes é um homem da poesia. Maria Prata já escreveu sobre o novo livro de Marcelo, “Love and Before, Green and After”, que terá lançamento no Brasil na loja da Surface to Air, no dia 26 de julho.
Esse é seu primeiro livro e é claro que eu escrevi pra Marcelo pra saber mais sobre:
“Me propuseram fazer esse livro em abril, nessa editora novinha que foca em livros de arte, meio ‘novellas’, são curtos e acessíveis, não custam 80 dólares mas ao mesmo tempo dão vontade de colecionar, pois são edições limitadas (até agora todos foram de 500 cópias). O preço no Brasil é 50 barão (como diria meu amigo Paulo Bega)”.
Uma das coisas que eu mais gosto de Marcelo é que ele tem personalidade, nas fotos e na vida. Leia isso: “Eu ODEIO livro de fotografia contemporânea de cara que se limita a fazer um ‘estudo’ sobre um tema, aquela mesma coisa, um livro sobre pneus, um livro sobre sobrancelhas, essas coisas… Nunca fiz escola de arte, Yale, Parsons, muito menos RISD, ooooooooooooooo gente metida este povo da RISD (Rhode Island School Of Design) [detalhe: Marcelo mora em Nova York há 7 anos]. Eu realmente faço de propósito até mesmo porque eu acho que é bem mais fácil fazer o livro de sobrancelhas do que fazer uma coisa realmente sincera, é impessoal, assim tu nunca colocas o teu na reta, e não é recalque, não é falta de recurso retórico, é porque eu acho chato e não concordo com o ranço acadêmico da maioria…” Marcelo rulez!
Essa franqueza de tentar buscar algo que seja realmente uma preocupação estética sua o diferencia da grande maioria que hoje procura, por facilidade e para ter uma inserção mais fácil no ‘mercado’, seguir as “tendêncinhas”, isso seja na arte, na foto e na moda.
“Eu nunca tentei enganar ninguém com o meu trabalho, sempre disse que é corriqueiro mesmo”. Esse olhar pra vida, pras atitudes mais simples das pessoas e das coisas sem medo de cair no clichê é sua grande coragem e recado.
“São 19 fotos ao total, das mais variadas coisas, e apesar disso o livro flui bem, conta um historinha, o que eu acho bem legal. se tem algo que unifica o livro é cor, cor sempre vai unificar o que eu faço porque eu sou tarado por cor, sempre fui, sempre vou ser. A historinha é mesmo uma cartinha de amor, meio cafona talvez, mas é sincero (outra coisa que sempre vai ser, sempre vai ser sincero), e do coração”. Se perguntem ao olhar essas fotos de Marcelo se tem algo de cafona ou se essa sinceridade que ele vê na natureza [leia, cores], nas relações e no ser humano realmente nos comove, se não estamos embrutecidos pela avalance de imagens que nos são bombardeadas. Vamos ser mais simples, mais sinceros parecem susurrar suas fotos. Esse talvez seja um certo novo naturalismo, pois parece que toda uma geração e Marcelo, eu tenho certeza, é um de seus representantes, nos faz voltar os olhos desse mundo photoshopado para algo mais poético, lírico e simples, como a vida pode ser.
PS: Nem preciso dizer que essas são todas fotos de Marcelo Gomes (dãh)
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Super post bacana… =)
Adorei a indicação por aqui viu!!!
bjos
Paula Baião
http://www.contextofashion.blogspot.com
Que reflexão nos, meu amigo, e que imagens lhindas, como diria a ivi. Imagina que se nas fotos e no make a gente vê essa simplicidade (lhinda), quando ela vai dar as caras na moda? Vale acrescentar a sua reflexão sobre as não mudanças da moda, disfarçadas de tendência. Vamos juntos ao lançamento, pra conversar e refletir mais? Que eu quero mointo ter essas imagens aí na minha casa, e vamos comprar um pra Cristina também que todo mundo merece ter poesia em forma de foto. =)
dãããã!!!
nossa, lindas fotos! realmente dá p/sentir a poesia em cada uma delas… adorei a dica, pois amo fotografia! bjs e apareça lá no meu blog (onde o seu está devidamente linkado, claro) – seja super bem-vindo!
ó, fui lá no blog da kira pra desfazer o mal estar e ficar amiga. como assim ela não te conhecia? como assim alguém reclama de não fazer parte do evento se não tá interessada no que tem em volta dela? anyways, fiquei amiga (ou quis ficar).
mil vezes o ryan mcgynley
muito bom esse post, vitor. eu adoro o trabalho do marcelo. os editoriais dele na key e na mag são os meus preferidos das duas edições. ando bem cansado desses editoriais mega perfeitos, tratados. eu ia amar a ultima campanha da osklen se eu pudesse ver os rostos dos modelos de verdade. ia amar varias coisas se fossem mais naturais e não tão tratadas. deve ser por isso que eu gosto tanto de colocar polaroids lá na minha “revista”. super apoio esse novo naturalismo. abs! =)
e desde quando o trabalho do ryan tem a ver com o do marcelo, cláudia? Que comparação surreal…
Claudia,
Eu entendo, é seu gosto, eu também amo o trabalho de Ryan e já publiquei algo no blog o contrapondo contra a nudez de marketing do Tom Ford, mas acho que nesse sentido eles, Ryan e Marcelo, mais dialogam – no sentido do que eu escrevi sobre esse certo novo naturalismo, é claro – do que criam hierarquias e ambos têm personalidades próprias. e fortes.
cada um no seu quadrado ahahaahah
Nada como minha loja preferida lançar o livro que mais espero no momento!
Sempre adorei esse estilo desprentecioso de fotografia e me identifiquei como Marcelo logo na primeira imagem dele.
🙂
Tudo de bom…o livro e o post!
Tô aprendendo mais, já que amo fotos!
que lindo post, Vitor. Marcelo é mesmo um grande cara. Literalmente.
pois até pode ser (deve ser) isso que ela quis dizer… de qualquer forma as pessoas devem ser cuidadosas e criteriosas na hora de fazer comparações, caso contrário passam por desinformadas. eu amo o trabalho do ryan (vide o meu blog) e nem tô defendendo o marcelo pq ele é o meu namorado – e amigo do ryan – só acho que a gente tem que ser cuidadoso na hora de fazer comparações!
; )
lendo esse post com o novo do Sigur Rós de trilha – naturalíssimo, quase um Clight Pomelo Rosado.
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Que post bonito chefe!
na era do photoshop, admiro a revista rolling stones por sempre caracterizar suas fotos com todas as linhas que a vida escreve no rosto de cada um! 😉 e gostei dos olhares das fotos sim!
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Achei muito legal as coisas que vc escreveu, tem tudo a ver com meu trabalho de conclusão de curso (estou trabalhando nele). A minha proposta é lançar uma linha de roupa íntima masculina que ajude a quebrar tabus e diminuir o preconceito. Quem sabe, eu consiga realmente produzir e colocar no mercado essas peças. Tenho interesse em livros e pesquisas relacionadas a este tema.